Rui Car
07/11/2020 11h42

Entenda como o resultado das eleições nos EUA vai impactar Santa Catarina

Biden e Trump divergem em torno de medidas econômicas e ambientais; Entidades, especialistas e o poder público falam sobre os impactos no Estado

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Biden está com vantagem em relação a Trump (Foto: Reprodução/Twitter)

Biden está com vantagem em relação a Trump (Foto: Reprodução/Twitter)

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Desde terça-feira (03), o mundo acompanha atento a apuração da eleição que definirá o próximo presidente dos Estados Unidos, entre os candidatos  Donald Trump, do partido Republicano, e o democrata Joe Biden. Os números deste último apresentam tendência de vitória.

 

O setor econômico catarinense também está de olho na eleição do mandatário da maior potência mundial. Os candidatos têm posições distintas em questões como comércio internacional e meio ambiente, e o resultado impactará a economia de Santa Catarina.

 

Para se ter uma noção da importância, somente entre janeiro e setembro de 2020, o Estado embarcou praticamente US$ 1 bilhão (R$ 5,39 bilhões) em madeira, obras para carpintaria, móveis, partes de motor aos EUA, segundo dados da Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina). Os EUA são o segundo principal destino das exportações catarinenses.

 

Empresários e especialistas já têm como definida a vitória de Biden. Até a manhã deste sábado (07) o democrata já havia conquistado 264 dos 270 delegados necessário para a vitória, liderando em quatro Estados decisivos.

 

Lembrando que a eleição acontece por meio de colégio eleitoral, com cada Estado tendo um número de delegados corresponde ao tamanho de sua população. No total, o colégio tem 538 delegados.  O resultado demora, em parte, devido ao grande volume de votos enviados por correio.

 

ND+ conversou com entidades empresariais, especialistas e o poder público. Dois fatores se destacam: se por um lado a provável eleição de Biden deve representar o aumento da cooperação econômica e das exportações, por outro a postura das empresas e do país sobre o meio ambiente terá que ser diferente.

 

Protecionismo e livre comércio

 

Trump e Biden apresentam posições opostas no que toca a relação econômica com outros países. No seu mandato, Trump aderiu a medidas protecionistas, favorecendo a indústria e o comércio nacional, mas desfavorecendo as empresas distribuídas pelo mundo.

 

Medidas antidumping, por exemplo, impediram a exportação de produtos a preço inferior ao realizado no mercado norte-americano, com o objetivo de favorecer a produção interna. Elas foram adotadas ao largo por Trump. E tiveram reflexos na economia catarinense.

 

Mesmo revestidas com uma retórica de proximidade, essas medidas antidumping reduziram as cotas de exportações de produto como aço e alumínio, destaca Mario Cezar de Aguiar, presidente da Fiesc. “A reeleição de Trump representaria a manutenção da política em curso”.

 

Já Biden representa, para Aguiar, a tendência de restabelecimento do livre comércio, multilateralismo e a participação americana em organismos internacionais, como a OMC (Organização Mundial do Comércio).

 

“Temos a expectativa de que, como em qualquer relação entre governos, o contato se paute pela preservação dos interesses de cada nação. Como Brasil e Estados Unidos são economias fortes, precisam encontrar formas equilibradas e harmônicas, mantendo uma boa aproximação e trabalho conjunto” concluí Aguiar.

 

Crise pós pandemia

 

Os setores da economia que mais seriam favorecidos com uma política de abertura seriam principalmente a indústria metalmecânica, o setor de plásticos, cerâmica e o agronegócio, destaca Rogério Siqueira, secretário da SDE (Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável de Santa Catarina).

 

Para Siqueira, uma postura econômica mais cooperativa seria fundamental no período pós pandemia, quando empresas terão que se recuperar das baixas.”Biden representa uma virada, pois ele é mais ligado às configurações globais. O Trump era mais nacionalista” ressalta o secretário.

 

Bruno Breithaupt, presidente da Fecomercio/SC (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina) também acredita que a tendência protecionista dos EUA será “suavizada”. “É provável que o o Estado consolide ainda mais sua participação no total exportado e importado aos Estados Unidos” afirma.

 

Em 2020, com a pandemia da Covid-19, o valor das importações entre Brasil e EUA caiu 18,8% e das exportações 31,5% destaca Breithaupt. Em Santa Catarina a queda foi bem menor do que no país, com diminuição de 14,3% no valor das importações e apenas 5,0% no das exportações.

 

A questão ambiental

 

Além da abertura econômica, uma questão fundamental é a mudança de tom no que toca o meio ambiente. As políticas de sustentabilidade e preservação têm sido determinantes nos últimos anos, por exemplo, para viabilizar ou não parcerias econômicas entre países.

 

“Acordos comerciais contam com cláusulas ambientais. Trump tirou os EUA do acordo de Paris [tratado que rege medidas de redução de emissão de gases estufa]. Biden, se eleito, afirma que voltará ao acordo. Ele defende questões ambientais desde a década de 70″ afirma Tiago Losso, professor do departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

 

É um consenso entre todos os entrevistados que esse é um fator preponderante. Se Biden se eleger, “os EUA voltarão à mesa de negociação com uma posição diferente da atual. E talvez sejam mais exigentes do ponto de vista ambiental”, ressalta o pesquisador.

 

Exemplo dessa mudança pode ser, a título de exemplo, uma exigência de alterar questões fitossanitárias no cultivo de porcos, afirma Losso. “Se o Brasil procurar situação de confronto, podemos ter resultado dramáticos, como perder direitos de exportar. Dependerá da postura do Brasil”.

 

O que pensam outras entidades empresarias de SC

 

O presidente da Acif (Associação Empresarial de Florianópolis), Rodrigo Rossoni, acredita que, independente do candidato eleito, o governo brasileiro deve adotar uma agenda focada em reformas — administrativa, tributária e da previdência, que consequentemente afetam Santa Catarina.

 

Já para o presidente da Acomac (Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção), Ivonei Arnaut, as eleições americanas não afetaram diretamente o setor em Joinville. Segundo ele, o grupo está em um patamar privilegiado, devido ao fortalecimento do agronegócio, e a ascensão da tecnologia das indústrias e das startups.

 

“Nós, da construção civil, surfamos nesta onda, tendo uma previsão de crescimento para 2021/2022. Em fevereiro ou março temos a previsão da volta da normalidade nas nossas prateleiras sem falta de mercadorias e com isso volta a crescer nosso setor”, diz.

 

A Acij (Associação Empresarial de Joinville) afirma que acompanha com muita atenção as eleições dos Estados Unidos. A Associação organiza um painel online para debater as perspectivas de comércio exterior e câmbio para o próximo ano, com a eleição do novo presidente.

 

“Os Estados Unidos são um grande mercado, que não têm até aqui priorizado em sua estratégia econômica os países emergentes, como o Brasil, e a América do Sul como um todo”, afirma Maysa Fischer, empresária que participa do núcleo. Ela espera uma retomada de diálogo e de fatores que poderão favorecer o acesso das indústrias exportadoras locais à maior economia global.

 

POR: CATARINA DUARTE, FELIPE BOTTAMEDI, ISABELA CORRÊA E LUANA AMORIM – ND+

 

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