Rui Car
24/07/2021 10h49

Casal de SC lança livro sobre 1ª viagem de namoro em meio a lockdown na África do Sul

Eles viajaram antes da pandemia, mas acabaram confinados no país quando os voos foram cancelados

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Francisco e Vivian viajaram ao país africano no dia 13 de março, um dia após Santa Catarina registrar o primeiro caso da Covid-19 (Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução)

Francisco e Vivian viajaram ao país africano no dia 13 de março, um dia após Santa Catarina registrar o primeiro caso da Covid-19 (Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução)

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Ninguém imagina o anúncio de uma pandemia durante a primeira viagem de namoro. Menos ainda que um lockdown severo seja decretado a quase 7 mil quilômetros de casa, impedindo o retorno. Foi o que aconteceu com Vivian Costa e Francisco Bittencourt, moradores de Florianópolis, que embarcaram para a África do Sul na iminência dos tempos pandêmicos.

 

O drama e os desafios que os dois viveram com a repatriação, as ruas vazias, e medo com a proliferação da Covid-19 no estrangeiro foi contada na época pelo ND+. Agora, com mais detalhes, foi documentada no livro “Repatriados – Lockdown na África do Sul”.

 

As 138 páginas são dividas em seis capítulos, assinados pela Vivian ou pelo Francisco. O livro foi escrito no início deste ano, após inúmeros amigos e familiares insistirem para o casal narrar a saga sul-africana. Os 24 dias são contados de forma cronológica.

 

A história começa antes, em 2019, quando os dois ainda se conheciam. Nas mesas do restaurante May, em Santo Antônio de Lisboa, eles planejavam conhecer a África do Sul por diferentes motivos – os safaris, Cape Town, surf. Dez meses depois, o passeio se tornou também um “teste drive” para o convívio dos novos companheiros.

 

Naquela época, o descontrole da pandemia, as variantes, transmissão comunitária, “covid longa” parecia conversa exagerada. “Em nossa doce ilusão, poderíamos ir e voltar sem que ocorresse um grande avanço dos números da COVID-19 no país africano”, escrevem. Mas o sonho e a realidade acabaram se entrelaçando de forma infeliz.

 

O primeiro caso de Covid-19 foi registado no Brasil justo no último dia antes das férias dos dois– ela é enfermeira, ele é engenheiro. O voo partiu dia 13 de março, após o primeiro registro no Estado. Por fim, o lockdown africano, decretado no dia 27 de março, “presenteou” Francisco, que celebrou um ano de vida no dia seguinte.

 

O drama do repatriamento

 

Mas a parte mais desafiadora ocorreu no final, com o lockdown. Por conta disso, a viajem que era para acabar no dia 30 de março se estendeu até 6 de abril. Os voos foram todos cancelados e eles dependeram das viagens disponibilizadas pelo consulado brasileiro. No meio-tempo, o que os salvou foi a generosidade da senhora que administrava a pousada.

 

Antes de cada capítulo, é apresentado um trecho do livro “Cartas da Prisão de Nelson Mandela”. Eles aludem a um outro isolamento: o vivido pelo líder sul-africano durante os 27 anos de encarceramento. Uma inspiração para o casal.

 

Há ainda os safaris, dicas de viagem (as ruas sul-africanas são em mão inglesa e o volante fica ao lado direito), as lojas que não podem vender vinhos depois das 15h30, e muitas outras curiosidades vividas ainda em “tempos normais”, nas cidades de Cape Town, Pretório e Johannesburg. A obra pode ser adquirida neste link.

 

O casal conversou com o ND+ sobre a obra.

 

Hoje, vocês acham que a viagem valeu a pena?

 

Vivian: Nos perguntamos isso na época. Foram muitas dificuldades, mas contamos com a ajuda de pessoas que nunca tínhamos visto. Isso foi um aprendizado sobre a importância da solidariedade, porque se não tivéssemos o apoio da senhora [dona da pousada], por exemplo, não sabemos o que seria da gente. Aprendemos a importância do apoio das pessoas e sempre estender a mão para quem precisa.

 

Como foi a experiência, como casal? O “teste de relacionamento” deu certo?

 

Vivian: A experiência só nos fortaleceu. Tivemos muita paciência e entendíamos a aflição um do outro e nos ajudávamos. Escrever o livro também foi outra experiência que nos deixou mais unidos e com mais força na relação.

 

Como comparam o lockdown da África do Sul com as estratégias adotadas no Brasil contra a Covid-19?

 

Vivian: Lá eles tem um sistema de saúde com mais limitações que aqui no Brasil. Os recursos financeiros também são menores. Quando teve lockdown, tinham quase 800 casos e, para a realidade deles, ajudou muito a diminuir a transmissão comunitária. Foi bastante efetivo.

 

Francisco: Eles respeitavam muito as regras do lockdown. A rua onde estávamos era cheia, mas depois que decretarem, ficou vazia. O nosso maior medo era adoecer pois o nosso seguro tinha uma clausula que não protegia em caso de pandemia.

 

Vocês intercalaram a história com as cartas que o Mandela escreveu. Por qual motivo?

 

Vivian: Um dos motivos da viagem foi o interesse pelo Mandela. Fomos para Johanesburgo e Pretória por causa dele. Vimos no museu do Apartheid um sofrimento muito grande, o povo africano sofreu muita exclusão. O que mais impressiona é o acolhimento, o que nos deixou surpreso, já que o apartheid acabou há pouco tempo. 

 

Por mais que tivessem acabado com o apartheid, faltam políticas sociais de inclusão. Por isso decidimos colocar um pouco de cada trecho, que falam justamente disso. O lockdown nos deixava preso, mas estávamos confortáveis. Imagina o Nelson Mandela, que ficou 26 anos preso em uma solitária?  No livro dele, percebemos que em todas as castas ele sempre tinha muita fé e sonhos.

 

Há uma passagem em aberta, por conta da repatriação. Já planejam a nova viagem?

 

FranciscoAinda não. A viagem pode ser remarcada até o fim do ano, mas a situação está difícil na África do Sul. As vezes liberam, as vezes não. Temos a vontade de voltar, mas estamos dependentes da liberação das fronteiras.


POR: FELIPE BOTTAMEDI – ND+

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