Rui Car
20/04/2018 06h30 - Atualizado em 19/04/2018 14h50

Palmeiras trata a final do Paulista como crime. E promete ir até a Fifa

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Blog do Cosme Rímoli

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“Vou até o fim.

 

“É uma questão de honra.”

 

Foi assim que o presidente do Palmeiras, Mauricio Galiotte, resumiu para o presidente do Conselho Deliberativo, Seraphim del Grande. Galiotte segue revoltado e fez da impugnação da final do Campeonato Paulista, sua obsessão desde o domingo dia 8 de abril.

 

Seraphim concordou e respondeu que o Conselho Deliberativo apoiará qualquer decisão do presidente para tentar anular a decisão contra o Corinthians. Há unanimidade e raiva entre as pessoas com poder no clube. E que não cede diante da ironia das redes sociais, de parte da imprensa e até do próprio Corinthians.

 

Até o presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, está surpreso com a ira de Galiotte. Intermediários tentaram aproximar os dois, depois que o presidente do Palmeiras anunciou rompimento com a FPF. Só que o dirigente não quis conversa. Acredita que Bastos não se posicionou diante do que considera uma clara interferência externa na decisão do juiz Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza.

 

Na visão do Palmeiras, Marcelo Aparecido só anulou a marcação de pênalti de Ralf em Dudu graças ao diretor de arbitragem da FPF, Dionizio Roberto Domingos. Ele, que estava ao lado do gramado do jogo, aparece conversando com o árbitro assistente Anderson José de Moraes Coelho. A desconfiança no Palmeiras é que Dionizio estava lá para colaborar com os juízes, algo que é proibido pela Fifa. E que se comprovado, possibilitaria a anulação do jogo. E obrigaria a Federação Paulista a marcar uma nova decisão.

 

Dionizio confirmou ao Tribunal de Justiça Desportiva da FPF, em um depoimento que durou sete horas, que ter um celular no bolso naquele domingo. E por ele poderia ver o lance por imagens de portais ou da televisão e confirmar que não houve a penalidade marcada por Marcelo. Só que Dionizio garantiu que seu celular estava desligado.

 

“Tinha o celular no meu bolso, mas a orientação é deixá-lo desligado”, afirmou, na declaração mais importante do depoimento.

 

Só que Galiotte não acredita nesta versão. Tem a certeza que Dionizio é o pivô de toda confusão. E decidiu tratar o jogo como um crime. Além de colocar todo o departamento jurídico, buscando soluções, o presidente buscou um grande jurista: José Luis Oliveira Lima. Ele é um dos maiores criminalistas do país. Conseguiu amarrar o acordo de delação de Jota Hawilla com o FBI, sem que fosse preso pelos vários delitos que cometeu, principalmente pagando propina para obter o direito de transmissão de torneios sul-americanos. Não teve a mesma sorte com José Dirceu, mentor político do ex-presidente Lula.

 

Juca tem inúmeros clientes importantes e segue muito respeitado. Foi um choque para muitos juristas da Federação vê-lo defendendo o Palmeiras.

 

“Vi inúmeras contradições nos depoimentos dos árbitros e do diretor de arbitragem. O Palmeiras tem a convicção que houve interferência externa. A defesa tem uma estratégia de defesa que não será revelada à imprensa. Mas há a certeza do que foi falado no tribunal pelos depoentes não condiz com a realidade. Poderemos ter novidade em relação a este caso”, diz, convicto, José Luis Oliveira Lima.

 

Uma das surpresas do Palmeiras seria a identificação do instrutor de árbitros da CBF, Marcio Verri Brandão. O clube quer saber se pode ter participado da interfência externa.

 

Galiotte mandou confiscar todas as imagens das dezenas de câmeras que estão instaladas na sua arena. E, desde a semana passada, especialistas em imagens trabalham arduamente buscando provas que o quinteto de arbitragem da final recebeu ajuda externa.

 

Com o apoio dos conselheiros e, até da patrocinadora Crefisa, o presidente decidiu tomar uma medida extrema.

 

Contratou a empresa norte-americana Kroll. Ela é uma das maiores especialistas em investigação de fraudes, atos de corrupção, verificação de antecedentes criminais, cruzamento de dados, desvios e negociatas bancárias.

 

A Kroll esteve por trás da renúncia do presidente Fernando Collor. Ela desmontou todo o esquema de lavagem de dinheiro e corrupção de PC Farias, tesoureiro da campanha de Collor. Atuou na CPI da Petrobrás. E também na operação Satiagraha, que levou a prisão de inúmeros políticos por lavagem de dinheiro.

 

A ordem de Galiotte é vasculhar absolutamente tudo e todos. Buscar entender se alguém se beneficiaria com o prejuízo do Palmeiras.

 

E o mais importante, mostrar de todos os ângulos possíveis as imagens daqueles oito minutos que a partida ficou paralisada. Da marcação do pênalti até a reviravolta, com Marcelo Aparecido decidindo dar escanteio. Até mesmo vídeos feitos por celulares de conselheiros que estavam na decisão foram analisados. Principalmente em relação ao diretor de arbitragem Dionizio. A busca é para tentar mostrar se ele consultou ou não seu celular. E o que ele falou para o árbitro assistente Anderson José de Moraes Coelho.

 

O Palmeiras desconfia que, graças a uma conversa dos dois, a penalidade foi esquecida.

 

O clube tem até hoje, ao meio-dia, para apresentar novas provas ao TJD. E até hoje de manhã, o Palmeiras trabalhava em busca de outras evidências.

 

Galiotte não quer receber prêmio de vice

 

Com a autorização do Conselho Deliberativo, Galiotte tomou uma decisão. O Palmeiras não aceitará a premiação de R$ 1,6 milhão pela segunda colocação no Paulista. Não enquanto a final estiver sob suspeita para o clube. E ainda não estiverem encerradas todas as possibilidades legais de impugnação da partida. O dinheiro deveria ser entregue nesta semana.

 

Ao campeão, até aqui, o Corinthians, tem direito a R$ 5 milhões. E o presidente Andrés Sanchez quer o dinheiro. Ele nem cogita a possibilidade de impugnação do jogo. Segue firme na convicção de que tudo não passa de ‘choro de mau perdedor’ de Galiotte.

 

Mas não é esta a postura do presidente palmeirense. O Tribunal de Justiça Desportiva deverá apresentar um relatório à procuradoria se aceita ou não as denúncia ou considera o caso encerrado. Caso as provas sejam recusadas, o Palmeiras promete recorrer até as últimas instâncias. Se preciso for, até à Fifa. Mas quer a partida impugnada.

 

Conselheiros mais velhos, ligados a Seraphim del Grande, desabafam em redes sociais de palmeirenses. Não aceitarão pacificamente outra injustiça histórica. Como o não reconhecimento oficial da Fifa do Mundial de 1951 e a não participação do Mundial de 2000.

 

O presidente do TJD, Antôno Olim, repete.

 

O jogo final pode ser anulado.

 

“Pode mudar. De repente o que chegar lá na frente, se tiver alguma coisa que mostre que alguém fez o juiz mudar sua posição, sim. Vamos ver todas as imagens, ouvir as pessoas. Não vamos falar antes de investigar. A investigação é muito rápida e vai ser bem profunda”, jurou.

 

Caso isso aconteça, o Corinthians promete não aceitar nova partida. De jeito algum.

 

A postura da diretoria de Andrés Sanchez é nem conversar sobre essa possibilidade. A taça do Campeonato Paulista de 2018 já está na galeria de troféus. E ninguém estará autorizado a tirá-la de lá.

 

Se houver a impugnação, a FPF arrumará confusão com o Corinthians.

 

Seria um caos para a credibilidade do Campeonato Paulista.

 

Caso o Palmeiras não consiga impugnar a final, Galiotte seguirá rompido com a Federação Paulista de Futebol. E se mostra cada vez mais disposto a tomar uma atitude radical. E boicotar o próximo Paulista, com seu clube mandando para campo equipes formadas basicamente por juniores.

 

Assumir publicamente e só tratar a disputa como “Paulistinha”.

 

A indignação de Galiotte não diminui.

 

Só aumenta.

 

“Vou até o fim.

 

“É uma questão de honra”, repete a quem cruza seu caminho…

 

(E Galiotte se entusiasmou. Soube que o Ministério Público decidiu também investigar se houve ou não interferência externa na final do Campeonato Paulista. Mesmo se o TJD afirmar que não aceita a denúncia, o Ministério Público pode reverter a sentença. E a briga se encaminhar para a Justiça Comum. Além de o Palmeiras buscar a Fifa…)

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