Rui Car
31/01/2017 15h40 - Atualizado em 31/01/2017 14h01

Cicinho espera propostas do Brasil e garante mais dois anos em alto nível

Lateral-direito treina sozinho à espera do interesse de algum clube do país

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Globo Esporte

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Depois de quase 10 anos fora do país, Cicinho está decidido a retornar. Lateral-direito campeão da Libertadores e do mundo pelo São Paulo em 2005, companheiro de Zidane, Ronaldo e Beckham no Real Madrid, reserva de Cafu na Copa do Mundo de 2006… O currículo é recheado, mas, aos 36 anos, ele está à espera de propostas de clubes brasileiros.

 

O jogador deixou o Sivasspor depois de três temporadas. Em duas – 2014-15 e 15-16 – foi eleito o melhor lateral-direito do Campeonato Turco, e, em ambas, líder de assistências.

 

Mas a saudade de casa, o desejo de ver as filhas pequenas conviverem com a cultura brasileira, e um curioso pavor de avião, que o levou a fazer longas viagens pelas estradas turcas no ônibus do clube junto com roupeiros e equipamentos, atraem Cicinho a voltar.

 

– Passei muito tempo fora do Brasil, meus pais já são de idade, tenho duas filhas pequenas e esse contraste de cultura é complicado para as crianças. A de dois anos e 11 meses estudou em colégio turco, demorou a falar nossa língua. Agora tenho uma de seis meses. Por tudo isso tenho desejo de ficar aqui. O futebol brasileiro é muito gostoso – disse ao GloboEsporte.com.

 

Veja a entrevista com o lateral-direito:

GloboEsporte.com – Você está decidido a voltar ao Brasil?
Cicinho – Exatamente, tenho esse desejo de jogar aqui. Recentemente, tive uma proposta de outro time da Turquia, mas deixei em “stand by” porque meu desejo é ficar no Brasil.

 

Você está com 36 anos. A decisão de voltar já faz parte de um plano de fim de carreira?
– Para falar a verdade, creio que da maneira que eu me encontro hoje ainda posso jogar dois anos em alto nível. Depois começo a pensar em parar. Enquanto eu me sentir competitivo, não vou pensar em parar. Ainda consigo encarar mais dois anos no Brasil.

 

Você tem um grande currículo no futebol. Acha que o fato de estar há mais de três anos num campeonato de pouca exposição te prejudica na busca por um clube no Brasil?
– Não creio. Tenho uma história bonita no futebol, nas duas primeiras temporadas na Turquia fui eleito o melhor lateral-direito do campeonato, nessa terceira me machuquei a quatro jogos do fim. Foram três anos em alto nível. Faz tempo que não me veem jogar, creio que se o campeonato passasse aqui seria mais fácil, mas peço a Deus que me abra portas no Brasil, num time que queira meu perfil. No momento certo vai acontecer.

 

O último ano na Turquia foi marcado por atentados, violência, problemas sérios. Isso pesa na sua decisão, você passou por algum perrengue?
– Perrengue não, o único problema é que você vive com medo. Graças a Deus nunca tive problemas, mas temos medo de ir a shopping, por exemplo. Houve atentados perto de estádios, atiraram no motorista do ônibus do Fenerbahçe. É bem complicado. Eu morava em Sivas, cheguei a pegar 25 graus negativos. Tenho pavor de avião, e aterrissar numa cidade com menos 15… Meu coração não está mais para isso, não.

 

Eu nunca soube desse medo de avião. Você foi ao Japão ser campeão mundial…
– Porque eu sou obrigado. Nas férias agora, fui de Goiás para Ribeirão Preto de carro. Se tiver a possibilidade de ir de carro, eu vou. Na Turquia, jogávamos contra o Fenerbahçe e o Galatasaray em Istambul. Na manhã seguinte o time todo voltava num voo fretado, eu voltava de ônibus. Eram 10 horas.

 

Você ia separado do resto do time? Sozinho?
– Eu ia no avião com todos eles porque o ônibus saía dois dias antes com os roupeiros, os equipamentos, o pessoal que cuidava das nossas coisas. O avião era só para a comissão técnica e os jogadores. Mas eu voltava no ônibus.

 

Não houve sondagens de clubes brasileiros?
– Sondagens foram muitas. Meu advogado cuida disso para mim e me mantém informado. Estou fazendo condicionamento físico para me apresentar 100% a algum clube. Minha pré-temporada foi com um amigo preparador físico e fisioterapeuta. Quero estar pronto quando houver um interesse concreto.

 

Você tem preferência, gostaria de escolher algum clube?
– Não é questão de escolher. É claro que eu gostaria de jogar a Série A, mas o que vier com certeza será a vontade de Deus. Se for a Série B, eu quero é jogar futebol. Estou bem para jogar e posso dar meu melhor independentemente de onde seja.

 

Alguns laterais mudam de posição ao longo da carreira. Viram meias ou atacantes por conta da dificuldade física. Você pode passar por isso? Ou segue na lateral?
– Não, eu sou lateral. Não tenho essa facilidade para jogar no meio ou no ataque. O futebol brasileiro ficou muito tático também, isso mudou. Não existe mais o atacante parado na frente. Ele corre como um lateral, um meio-campista. Você não vê mais um lateral chegar 10, 15 vezes à linha de fundo. Chega quatro ou cinco. Não é mais um futebol peladeiro, é tático.

 

Há veteranos que ainda se destacam no futebol brasileiro. São seus exemplos para jogar bem?
– É claro, temos que nos espelhar nos grandes jogadores. Há o Ricardo Oliveira, o Zé Roberto, o Rodrigo, o Nenê, o Renato… O futebol brasileiro está mudando essa cultura. Às vezes o corpo não corresponde 100%, mas a cabeça boa e um bom preparo físico compensam as limitações.

 

Você chegou a pensar que o Rogério Ceni, agora técnico do São Paulo, pudesse querer contar com você, já que foram campeões juntos?
– Não conversei com ele, mas torço para que dê certo na função. O São Paulo precisa retomar o rótulo de vencedor, de time campeão. Acho que isso vai acontecer com ele.

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