Rui Car
10/12/2019 14h03

Temos que parar de sexualizar Mel Maia, ela ainda é uma criança

Jovem atriz tem apenas 15 anos

Assistência Familiar Alto Vale
Por: Marcela De Mingo - Yahoo!

Por: Marcela De Mingo - Yahoo!

Delta Ativa

Nesta terça-feira (10), a atriz Mel Maia acordou nos Trending Topics do Twitter – mas por um motivo totalmente questionável. Na última segunda (09), ela publicou no Instagram uma foto em que aparece de biquíni, e foi imediatamente sexualizada pelos seus seguidores. 

 

Aos 15 anos de idade, a atriz tem todo direito de usar a roupa que quiser para aproveitar o tempo longe das câmeras – inclusive, um biquíni, na beira da piscina -, porém isso não dá o direito às pessoas, mais velhas e com mais experiências do que ela, esquecerem que Mel ainda é uma criança, também sob os olhos da lei. 

 

Pela postagem, o que mais vemos são comentários sobre a sua aparência. Frases como “linda” e “maravilhosa” foram alguns dos mais frequentes, mas também encontramos por lá outros mais preocupantes como “O bom de ter 17 anos e poder achar essa garota uma gostosa da p*rra sem ter consciência pesada”. 

 

Dos mais de cinco mil comentários presentes na foto, poucos são aqueles que falam alguma coisa diferente de um suposto “elogio” à aparência de Mel – e mais, muitos são de homens simplesmente chamando a menina de “gostosa”.  

 

Por mais que Mel esteja, de fato, colocando o corpo de biquíni à mostra na internet, nada justifica a sexualização que ela e tantas outras meninas da sua idade passam diariamente. Isso, claro tem resultados palpáveis no dia a dia dessas jovens. 

 

Segundo um estudo desenvolvido pela ONG ActionAid, mais da metade das brasileiras com idade entre 14 e 21 anos – 53% delas, para sermos exatos -, têm medo de serem assediadas. E, o pior, esse medo é tão intrínseco que passou a ser algo diário, cotidiano, na vida dessas jovens. 

 

Em um ranking feito pela organização, o Brasil fica em primeiro lugar como o país onde as meninas mais se sentem ameaçadas, em comparação com os outros três países pesquisados: Reino Unido, Quênia e Índia. 

 

Ah, e aí vai mais uma informação chocante. Das 250 jovens brasileiras que participaram da pesquisa, 73% haviam sofrido algum tipo de assédio nos últimos seis meses anteriores ao estudo. Esses assédios vão de interações verbais à assobios, passando por comentários negativos feitos sobre a sua aparência tanto ao vivo quanto pelas redes sociais. 

 

O que leva ao assédio acontece na sexualização precoce de meninas, que começa em outras ideias de base que regem a sociedade. Historicamente, as mulheres são vistas como objetos de prazer, um conceito muito reforçado pela pornografia, por exemplo, que também ensina meninos mais jovens que o sexo é algo totalmente relacionado à violência e a jogo de poder, principalmente do homem sobre a mulher. 

 

Por conta dessas bases, meninas mais novas, que começam a desenvolver o corpo na adolescência e amadurecem nessa fase, são consideradas objetos de desejo pelo sexo masculino. E isso acontece tanto por conta desse conteúdo altamente degradante da imagem feminina, quanto pelo reforço constante da noção de que o valor de uma mulher está na sua aparência e não no seu intelecto. 

 

Se prestarmos atenção, os comentários da foto de Mel até podem soar como positivos, mas tem por trás uma carga sexual altíssima, que carrega consigo todo esse histórico de hiperssexualização de meninas e que leva a tantos crimes cometidos diariamente – de abuso sexual dentro de casa até estupros e exploração sexual de crianças e adolescentes. 

 

Vale lembrar que, em 2018, a média era de 4 estupros de meninas até 13 por hora, de acordo com Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019. Se considerarmos também as vítimas de até 17 anos, o número de casos chega a mais de 71% do total no período. 

 

Pode ser que estejamos indo um pouco longe demais, mas fato é que uma simples foto de biquíni não só pode, como deve levar a uma discussão muito mais profunda sobre a forma como criamos meninas e meninos na nossa sociedade. Mel é menor de idade e, como tal, deve ser tratada como a criança que ela é, livre para se descobrir com segurança, sem medos e longe dos olhos de predadores que, mais tarde, a farão questionar a sua capacidade ou importância porque sua aparência, por algum motivo, mudou. 

Justen Celulares