Rui Car
24/10/2019 16h10 - Atualizado em 24/10/2019 13h50

Novo tratamento pode reverter a doença celíaca

Cerca de 1% da população tem essa doença

Assistência Familiar Alto Vale
HypeScience

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Um novo estudo da Universidade Northwestern (EUA) desenvolveu um tratamento que pode representar a cura da doença celíaca, induzindo uma resposta imune nos pacientes que os faz tolerarem glúten.

 

Como funciona

Cerca de 1% da população tem doença celíaca, uma condição autoimune na qual a ingestão de glúten – encontrado por exemplo em farinha de trigo, cevada e centeio – pode levar a sérios danos ao intestino. Atualmente, não há cura para a doença.

 

A nova tecnologia consiste em uma nanopartícula biodegradável que carrega substâncias para “ensina” o sistema imunológico do paciente que o antígeno (ou alérgeno) é seguro. Dessa forma, age como um “cavalo de Troia”, levando o “inimigo” para dentro do organismo em uma embalagem inocente, convencendo o sistema imune a não o atacar.

 

As nanopartículas são eventualmente engolidas pelos macrófagos, células que fagocitam elementos estranhos ao corpo.

 

“Essas células acabam apresentando o alérgeno ou antígeno no sistema imunológico de uma maneira que diz: ‘Não se preocupe, isso pertence aqui’”, explica Stephen Miller, professor de microbiologia e imunologia da Universidade Northwestern. “O sistema imunológico então desliga o ataque ao alérgeno”.

 

O estudo

No experimento conduzido pelos pesquisadores, a nanopartícula carregou gliadina, um dos principais componentes de uma dieta com glúten.  

 

Depois de uma semana do tratamento, os pacientes comeram glúten por 14 dias. Eles tiveram 90% menos respostas imunes à substância do que pacientes não tratados. Estes, ao comerem glúten, desenvolveram marcadores imunes como resposta à gliadina, além de exibirem danos ao intestino delgado.

 

“Esta é a primeira demonstração de que a tecnologia funciona em pacientes”, disse Miller.

 

Avanço

Doenças autoimunes geralmente são tratadas com supressores que dão algum alívio aos sintomas, mas também danificam o sistema imunológico e podem ter efeitos colaterais tóxicos. Este não é o caso da nanopartícula. Ela não suprime o sistema imunológico.

 

“A doença celíaca é diferente de muitos outros distúrbios autoimunes porque o antígeno agressor é bem conhecido – glúten na dieta. Isso torna a doença celíaca uma condição perfeita para lidar com o uso dessa emocionante abordagem de tolerância imune induzida por nanopartículas”, comemorou Kelly Ciaran, professora de medicina na Universidade de Harvard (EUA) e diretora da ala de doença celíaca no Beth Israel Deaconess Medical Center (EUA).

 

Próximos passos

Além da doença celíaca, outras condições e alergias podem ser tratadas com a mesma tecnologia de nanopartículas.

 

“Também mostramos que podemos encapsular a mielina na nanopartícula para induzir tolerância a essa substância em modelos de esclerose múltipla, ou colocar uma proteína das células beta pancreáticas para induzir tolerância à insulina em modelos de diabetes tipo 1”, contou Miller.

 

A nanotecnologia foi licenciada para a COUR Pharmaceuticals, uma empresa de biotecnologia cofundada por Miller. A partir de agora, a COUR irá focar em programas clínicos para tratar alergia à amendoim (muito comum nos EUA) e esclerose múltipla. [ScienceDaily]

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