Rui Car
27/06/2017 09h05 - Atualizado em 27/06/2017 08h21

Ela venceu o câncer, voltou a sonhar e criou um projeto para ajudar outras mulheres

Por Verônica Mambrini

Assistência Familiar Alto Vale
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Delta Ativa

A menina tinha cabelão, terminava a faculdade de fisioterapia e, aos 23 anos, pensava em trabalhar com oncologia. Seis anos depois, a mulher de cabelo chanel moderninho é totalmente diferente: se formou, criou um projeto que já ajudou mais de 6 mil mulheres e está de casamento marcado. Descobrir um câncer raro transformou a menina em uma mulher forte que amadureceu rápido: Evelin Scarelli é uma pequena gigante.

 

Um dia, se espreguiçando, Evelin percebeu um nódulo estranho no seio e foi ao médico. O ultrassom indicou um cisto de gordura. Como ela tinha 23 anos e não tinha histórico familiar de câncer, o médico disse que não precisava extrair. “Mas insisti para tirar porque estava me incomodando”, conta.

 

Por isso, quando saiu o resultado da biópsia do cisto, o diagnóstico veio como uma bomba. O câncer era de um tipo agressivo, então não houve muito tempo para pensar. Ela saiu do consultório dia 17 de dezembro, com a cirurgia de extração da mama marcada para dia 31. Na sequência, começou o tratamento com quimioterapia. Descobriu no meio do processo que precisaria de radioterapia e tratamento hormonal. Cirurgias, perder os cabelos, engordar, o mal estar: tudo veio rápido e de uma vez.

 

Foto: Acervo Pessoal
 

Como o tratamento debilitou muito o sistema imunológico de Evelin, ela precisou se isolar no sítio da família em Atibaia. “É uma solidão diferente, no sentido de enfrentar sozinha seus medos”, conta. Buscando pessoas para trocar experiências, ela encontrou Celeste, numa rede social, com uma história muito parecida. No fim da fase mais crítica do seu tratamento, Evelin mandou seu primeiro lenço para Celeste, com uma carta. Foi assim que nasceu o projeto Lenço Cor de Rosa: Evelin distribuiu seus 17 lenços para mulheres que precisavam de apoio.

 

Foto: Acervo Pessoal
 

“O projeto foi uma forma de agradecer também. A pessoa recebe o lenço, passa pelo tratamento, e devolve pra outra pessoa”, conta Evelin. No começo, ela fazia os envios por conta própria. Como não poderia bancar o projeto sozinha, ofereceu-o para o Instituto Oncoguia, que abraçou a ideia, com a condição de que ela continuasse à frente dele. Hoje são seis voluntárias. Cada lenço vai com um tsuru (dobradura de papel japonesa um forma de pássaro), e uma carta. “A gente faz uma única pergunta: por que você acha que esse lenço vai te ajudar? A gente nunca errou. O lenço vem com uma história de compreensão e empatia de alguém que já passou por isso”, conta Evelin.

 

De paciente a familiar
Já em remissão, Evelin insistiu para a mãe fazer um check up preventivo. “A última vez que ela tinha ido ao ginecologista foi quando nasci. Ela pensava ‘quem procura acha’. Mas quem acha, cura”, conta Evelin. Não deu outra: Celia, a mãe de Evelin, também estava com câncer.

 

Foi quando Evelin se viu do outro lado. “Mesmo tendo passado por tudo aquilo, eu me sentia impotente. Você tem medo de que a pessoa que você ama morra.” Elas se aproximaram mais ainda durante o tratamento de Celia, que extraiu as duas mamas, útero e ovários – a mesma cirurgia que Angelina Jolie fez. As duas hoje estão ótimas, e Celia coordena as voluntárias do projeto.

 

Evelin sempre tentou se manter otimista. “Eu sabia que ia ficar careca, debilitada. Tinha tudo para ser infeliz e me sentir mutilada. No dia da cirurgia, eu peguei o guardanapo e anotei porque eu queria viver: pela minha família, porque quem eu fui e por quem eu posso ser. Todo mundo passa por situações difíceis, a minha foi o câncer. Não foi fácil, mas ter passado por tudo que passei me tornou um ser humano melhor”, conta. “Eu escolhi não ficar no lado sombrio. O emocional é o carro-chefe de tudo: quem é ativo e responsável cuida do seu próprio tratamento, consegue superar melhor as coisas.”

 

Voltar a sonhar
Hoje ela trabalha com mídias sociais no Instituto Oncovida. Um dia, pesquisando hashtags no Instagram, ela buscou #atibaia, e apareceu a foto de um moço chamado João, treinando na Pedra Grande, que fica na cidade. “A gente começou a curtir fotos um do outro, mas eu não queria namorar antes de ter alta. Você se questiona sobre tudo: será que ele vai entender que eu não tenho um seio, que eu posso passar mal?” João insistiu em encontrar Evelin, apesar dela estar se esquivando. Até que ela tomou um ultimato da avó: “Se você não sair com ele eu nunca mais falo com você”. A essa altura, até o oncologista já tinha colocado na receita médica, brincando, que o próximo remédio de Evelin era “um namorado, 5 doses por semana”.

 

Foto: Acervo Pessoal
 

Nessa época ela se deu conta de que o câncer já não era prioridade e voltou mirar o futuro. A alta, antes prevista para 2020, foi em dezembro de 2016. Começaram a namorar faz 3 anos, e em dois meses vão se casar. “Ele mudou minha vida, é meu anjo da guarda”, conta. E o último dia dos namorados dos dois foi especial. “Eu sabia que tinha uma probabilidade de não ser mãe por causa do tratamento. Semana passada, descobri que posso ser mãe! O resultado do exame de fertilidade foi meu presente de dia dos namorados.”

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