Rui Car
23/10/2019 17h00 - Atualizado em 23/10/2019 14h05

Cientistas ensinaram ratos a dirigir carros minúsculos (e isso tem um por quê)

Esse tipo de pesquisa pode auxiliar estudos futuros sobre neuroplasticidade

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HypeScience

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Pesquisadores da Universidade de Richmond (EUA) ensinaram ratos a dirigir carros minúsculos para coletar comidas gostosas pelo caminho.

 

O objetivo do estudo não era transformar os ratos na próxima espécie capaz de dominar o planeta estilo Pinky e o Cérebro, mas sim entender como o aprendizado de novas habilidades é capaz de aliviar o estresse.

 

Além disso, os modelos roedores também podem servir para estudarmos cada vez mais melhor o impacto de condições mentais em habilidades manuais, incluindo uma complexa como a condução de veículos.

 

O estudo

Os animais são geralmente muito mais inteligentes e capazes do que lhes damos crédito. Logo, os cientistas de Richmond queriam saber se conseguiriam ensinar tarefas mais sofisticadas para ratos, que já são usados comumente em pesquisas para resolver labirintos, apertar botões e reconhecer objetos.

 

6 fêmeas e 11 machos participaram do estudo. Os cientistas construíram um carro transparente com chão de alumínio e barras de cobre funcionando como volante. Com os pés no alumínio e as mãos nas barras de ferro, um rato poderia completar um circuito elétrico e impulsionar o veículo para frente, bem como manipular as barras para virar o carro em diferentes direções.

 

Para encorajar os animais a avançarem nas suas habilidades de direção, os pesquisadores foram colocando recompensas na forma de gostosuras em pontos cada vez mais distantes da pista que os ratos dirigiam.

 

 

Resultados

Para entender como a nova habilidade afetou os níveis de estresse dos animais, os pesquisadores mediram dois hormônios: corticosterona, um marcador do estresse, e desidroepiandrosterona, que neutraliza o estresse.

 

Ao longo do treinamento, a proporção entre ambos nas fezes dos ratos aumentou. A equipe em seguida descobriu que os ratos que aprenderam a dirigir sozinhos tinham níveis mais altos de desidroepiandrosterona e estavam menos estressados do que os ratos que foram transportados como passageiros em carros com controle remoto.

 

O achado está alinhado com uma descoberta anterior da mesma equipe, que mostrou que os ratos ficam menos estressados depois que dominam tarefas difíceis, como desenterrar alimentos.

 

Segundo uma das pesquisadoras do estudo, Kelly Lambert, os animais podem sentir o mesmo tipo de satisfação que sentimos quando aperfeiçoamos uma nova habilidade. “Nos humanos, chamamos isso de autoeficácia ou agência”.

 

No futuro

Esse tipo de pesquisa pode auxiliar estudos futuros sobre neuroplasticidade, por exemplo, colocando os ratos para desempenharem tarefas mais complexas como dirigir veículos para examinar efeitos de condições como Parkinson nas habilidades motoras e espaciais dos animais.

 

Também é possível estudar o efeito da depressão e outras condições na motivação dos animais em realizar e aprender novas tarefas.

 

“Se usarmos modelos mais realistas e desafiadores, eles podem fornecer dados mais significativos”, resume Lambert.

 

O próximo passo da equipe é desenvolver experimentos de acompanhamento para entender como os ratos aprendem a dirigir, por que isso parece reduzir o estresse e quais áreas do cérebro estão envolvidas nesses processos.

 

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Behavioural Brain Research. [NewScientist]

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