Rui Car
23/11/2017 15h10 - Atualizado em 23/11/2017 14h11

As partes do corpo em que a dor é mais perturbadora e estressante

A percepção da dor varia em função da zona que ela afeta

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A dor é uma sensação pessoal e subjetiva, que depende não apenas da patologia que a provoca, mas sim de vários fatores associados, como os culturais, sociais, pessoais (idade, estado emocional, situação cognitiva) e as experiências prévias de dor.

 

Sem dúvida, as pessoas qualificam as dores de cabeça, face, olhos, ouvidos e dentes como as piores e mais estressantes emocionalmente, do que dores em outras partes do corpo.

 

Para dar uma explicação científica sobre isso, a Universidade de Duke, em Durham, Carolina do Norte, EUA, investigou como e de onde essa “faísca” parte e descobriu como os conectores cerebrais nos fazem sofrer mais pela dor de cabeça e de face. A resposta pode encontrar-se não só no que os cinco sentidos nos informam, mas em como essa sensação nos faz sentir emocionalmente.

 

A equipe descobriu que os neurônios sensoriais que atuam sobre a cabeça e a face estão conectados a um dos principais centros sensoriais de emoções do cérebro, mesmo que outros neurônios sensoriais de outras partes do corpo também estejam, mas de forma indireta.

 

As contrações musculares no pescoço, ombros e costas ocupam o segundo lugar na lista das piores dores. (Foto: Getty)
 
 

Normalmente os médico tratam a sensação de dor, mas isso nos mostra que devemos tratar também dos aspectos emocionais da dor”, afirma o autor principal do estudo, Fang Wang, professor de Neurobiologia e Biologia Celular em Duke. Os resultados, que podem abrir caminhos para tratamentos mais efetivos para as dores de cabeça crônicas, e dores faciais, estão publicados na edição digital de ‘Nature Neurocience’.

 

Os sinais de dor da cabeça versus os do corpo são levados ao cérebro através de dois grupos diferentes de neurônios sensoriais, e é possível que os neurônios na cabeça sejam simplesmente mais sensíveis à dor do que os neurônios no corpo.

 

Mas segundo o professor Wang, as diferenças de sensibilidade não explicariam um maior medo e sofrimento emocional que alguns pacientes experimentam, como resposta às dores de cabeça, do que às dores no resto do corpo.

 

Isso é demonstrado pela imagem de ressonância magnética que indica maior atividade na amígdala – uma região do cérebro envolvida em experiências emocionais – em resposta à dor de cabeça em comparação com a dor em outras partes do corpo. “Em estudos em humanos, observou-se que a dor na cabeça e no rosto parece ativar o sistema emocional mais extensivamente“, diz Wang. Mas os mecanismos subjacentes não são claros “.

 

Suportamos melhor a dor em outras partes do corpo do que a dor crânio facial, porque esta leva ao sofrimento emocional. (Foto: Getty)
 
 

Uma região cerebral conectada com os centros intuitivos e emocionais

Para examinar os circuitos neurais subjacentes aos dois tipos de dor, Wang e sua equipe rastrearam a atividade cerebral em camundongos depois de provocar dor na perna ou na face, o que os levou a descobrir que provocar dor na face gerou maior atividade no núcleo parabraquial (PBL, sigla em inglês) do cérebro, uma região que está diretamente conectada aos centros instintivos e emocionais do cérebro. Então, eles usaram métodos baseados em uma nova tecnologia recentemente iniciada pela equipe do Dr. Wang, chamado CANE, para identificar as fontes de neurônios que causaram essa atividade de PBL elevada.

 

Experimentos extras mostraram que a ativação desta via provocava a dor na face, enquanto que o estancamento da via, a reduziu. “Temos a primeira explicação biológica sobre por que este tipo de dor pode ser muito mais grave, emocionalmente, do que outras”, afirma ao autor do trabalho, Wolfgan Liedtke, professor de neurologia no Centro Médica da Universidade de Duke. “Isto abrirá as portas não apenas para entendermos mais a funda a dor crônica de cabeça e face, mas também ajudará a traduzir esta percepção em tratamentos que ajudarão as pessoas”, acrescentou.

 A dor nos maxilares e dentes podem ser tão intensas que nos levam a nos sentirmos desorientados, provocando inclusive vertigens. (Foto: Getty)
 

As dores crônicas de cabeça, como cefaleias e a nevralgia do nervo trigêmeo, podem ser tão severas que os pacientes buscam soluções cirúrgicas, como cortar as vias nervosas conhecidas por levar a sensação de dor da cabeça e face até o rombencéfalo; Mas muitos pacientes continuam sofrendo, mesmo depois dessas medidas.

 

“Algumas das formas mais debilitantes de dor ocorrem na região da cabeça, como a enxaqueca, diz Qiufu Ma, professor de Neurobiologia da Faculdade de Medicina de Harvard. “O descobrimento desta via direta de dor pode explicar o porquê da dor facial ser tão mais severa e mais desagradável”, conclui.

 

 

Mónica De Haro

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