Rui Car
16/10/2019 14h01

Após se dizer “instrumento do diabo”, Fernanda Montenegro agradece a Deus por longa carreira

Ácida, não titubeou ao criticar a postura do governo em extinguir o Ministério da Cultura

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A nonagenária atriz Fernanda Montenegro virou notícia ao publicar uma foto fazendo uma prece em agradecimento a Deus após uma apresentação no teatro. Recentemente, ela se valeu de forte sarcasmo ao dizer que artistas são “instrumentos do demônio”.

 

No último sábado, 12 de outubro, Fernanda Montenegro apresentou o monólogo “Nelson Rodrigues por Ele Mesmo”, no teatro Sesc Ginástico. Na plateia, colegas de profissão como Aracy Balabanian, Renata Sorrah, Marieta Severo e Francisco Cuoco prestigiaram o espetáculo, encenado apenas para convidados.

 

Ao final, novamente a atriz fez um discurso político, contrário ao conservadorismo: “Discursou sobre o duro momento que a arte vive no país. Antes, foi aplaudida de pé pelos amigos, que entoaram o parabéns pra você — a atriz faz 90 anos quarta agora”, informou o jornalista Ancelmo Góis, de O Globo.

 

Ao chegar em casa após a jornada, Fernanda Montenegro publicou a foto de uma reza em gratidão pela longa carreira.

 

 

Progressismo

Há pouco tempo, numa entrevista para promover seu livro autobiográfico Prólogo, Ato, Epílogo, Fernanda Montenegro criticou o pensamento conservador que cresce no país e determinou uma mudança na política nacional, através da eleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

 

Ácida, não titubeou ao criticar a postura do governo em extinguir o Ministério da Cultura e fazer ajustes na Agência Nacional do Cinema (Ancine) – órgão realocado no Ministério da Cidadania – e também defender mudanças na Lei Rouanet, que permite a empresas abaterem impostos em troca de financiamento de projetos artísticos.

 

“Estamos nos transformando em um país conduzido por uma visão religiosa e quem não apoiar não terá nada. E a cultura tornou-se o primeiro item a ser revisto e, se possível, exterminada. A arte é demoníaca, e nós, artistas, somos o instrumento do demônio”, declarou.

 

 

A postura contrária ao conservadorismo, no entanto, não é nova. Em 2015, por exemplo, diante da repercussão negativa da cena de beijo gay entre sua personagem na novela Babilônia com a atriz Nathalia Timberg, Fernanda Montenegro concedeu uma entrevista à revista Veja e afirmou que o boicote feito ao folhetim era uma espécie de “caça às bruxas”, e que essa reação do público não era esperada.

 

“Não esperávamos essa reação. A situação toda do país está muito extremada, na discussão política e sobre comportamento. Todos temos o direito de se posicionar. Não tiro o direito de ninguém. O problema é a radicalização desse pensar e no que ele pode se transformar. É caça às bruxas, de todos os lados”, queixou-se à época.

 

Como consequência da postura de confronto adotada pela TV GloboBabilônia sofreu com a audiência baixa e alavancou a produção da concorrente, Record TV, que levou ao ar a “novela bíblica” Os Dez Mandamentos, que posteriormente se tornou o maior sucesso da dramaturgia da emissora do bispo Edir Macedo.

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