Rui Car
04/10/2019 12h30 - Atualizado em 04/10/2019 08h59

Mãe (e pai) de dois, goleira “paga” para jogar, abdica de luvas e ainda pega pênalti

"Estou habituada a jogar sem equipamentos", disse arqueira

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Imagine aquele chute indefensável. Agora tente imaginá-lo sem que os narradores soltem aquele bordão: “Joga a luva”. Esses profissionais provavelmente nunca conheceram a goleira Gerlaine, do Clíper, que surpreendeu ao abdicar do equipamento nesta quinta, em derrota por 4 a 0 contra o Nacional-AM, no estádio da Colina, pela abertura do Amazonense feminino.

 

Gerlaine, que ainda pegou um pênalti na partida e foi considerada a principal destaque de sua equipe na goleada, que jogou com 10 e sem banco de reservas, justificou a atitude inusitada e disse que, por não atuar há muito tempo, perdeu o hábito de usar luvas.

 

– Faz muito tempo que eu parei de jogar bola e eu estou habituada a jogar sem as luvas. Só que eu ainda não comprei as luvas, muito menos consegui treinar. Então ficou díficil agarrar hoje de luva. Eu ainda peguei um pênalti, que é a minha verdadeira paixão na profissão – disse.

 

Gerlaine tem 35 anos. E garra é o que não faltou em todas essas primaveras. Ela é mãe solteira de dois adolescentes, um de 16 e outro de 13 anos, que estão entre os 5,5 milhões de brasileiros sem os nomes dos pais na certidão de nascimento.

 

 

Nacional x Clíper — Foto: Rômulo AlmeidaNacional x Clíper — Foto: Rômulo Almeida

Nacional x Clíper — Foto: Rômulo Almeida

 

Graduada em administração, mas recepcionista de um laboratório em sua cidade natal, Presidente Figueiredo, a 100 km de Mananus, ela precisou pagar a diária de uma colega para poder entrar em campo hoje. E que bom que foi assim. Porque, com ela, a Águia Dourada do Parque 10 entrou apenas com 10 jogadoras em campo.

 

– Eu preciso sobreviver, por isso tenho outro emprego. Tenho que criar meus dois filhos. Sou mãe e pai e crio eles sozinha – ilustrou, antes de enfatizar o orgulho que sentiu pelas suas companheiras.

 

– Estou orgulhosa da minha equipe. É a primeira vez que a gente entra numa competição importante. Estamos aqui para dar o melhor, endossando Presidente Figueiredo, estamos aqui para competir, independentemente do resultado ou não. Ninguém nunca jogou sem ser fora do município, essa é a nossa primeira participação no profissional – finalizou.

 

Com a derrota, o Clíper agora é o vice-lanterna da competição, sem pontos. Na próxima rodada, o time recebe o Rio Negro na quinta-feira, dia 10, no mesmo local.

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