Jorge Jesus tem uma prática desde que chegou ao Flamengo batizada de “treino de sala”. Consiste em, quase que diariamente, expor didaticamente através de vídeos suas ideias. Pois bem, a exibição diante do Emelec, em Guayaquil, pode entrar na pauta como: “Tudo o que não se deve fazer em uma partida”. A começar com lições para si próprio.
Rafinha foi escalado como ponta direita na maior parte do jogo em Guayaquil — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
O Flamengo que entrou em campo no George Capwell, na noite de quarta-feira, em momento algum sequer deu indícios de que teria chances de sair com a vitória. Errou tudo! Coletivamente e individualmente, a exibição no Equador foi catastrófica. Desde as escolhas do treinador antes de a bola rolar.
Sem Vitinho, De Arrascaeta e Everton Ribeiro, Jorge Jesus disse em coletiva que não faria mudanças drásticas no jeito de jogar. Deixou o radicalismo, porém, para a escolha das peças de um Flamengo desconjuntado e até certo ponto apático diante do Emelec. Rafinha foi deslocado para ponta direita, Cuéllar voltou para o banco de reservas, e Willian Arão atuou sozinho como primeiro volante. Todas escolhas malsucedidas.
Antes mesmo de falar dos gols que deram ao Emelec uma boa vantagem para o jogo de volta no Maracanã, é preciso falar de tudo que o Flamengo não realizou diante do frágil adversário. Até porque, o Emelec fez aquilo que dele se esperava: se defendeu bem e aproveitou para atacar quando possível. Quem teve performance muito abaixo da expectativa foi o Rubro-Negro.
Durante todo o primeiro tempo, o que se viu em vermelho e preto foi um time espaçado e encaixotado na intermediária ofensiva, trocando passes sem criatividade e era presa fácil para o bem postado time do Equador. A bola passeava de um lado para o outro sem encontrar espaços na ajustada marcação de um Emelec, que, diante de qualquer risco de perigo, não titubeava em apelar para faltas.
Diego em ação contra o Emelec: meia sofreu lesão séria e tem a temporada em risco — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
Agressivos defensivamente, os donos da casa cumpriam sua estratégia com a intensidade que passava longe do time de Jorge Jesus. Moroso com a bola nos pés, o Flamengo era distante na marcação. Nesses espaços, o Emelec virou a bola da direita para esquerda até Guerrero encontrar Godoy, livre na área entre defensores, para abrir o placar.
Na volta do intervalo, a expulsão de Vega deu a chance de Jorge Jesus recolocar o Flamengo no eixo. E novamente não deu certo. A troca de Rodinei por Lincoln até deu vida a Rafinha e jogou a equipe para o ataque. Ao colocar Cuellar e Lucas Silva logo em seguida, no entanto, o treinador queimou as três substituições, viu o time demorar para se entender e teve o duro golpe da lesão de Diego. Definitivamente, nada dava certo.
Rodrigo Caio tenta cabeçada: bola aérea do Flamengo não funcionou — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
Com dez contra dez, o Emelec se soltou diante de um rival com somente uma peça no meio de campo: Cuéllar. Ao lado de Rodrigo Caio e Renê, o colombiano até se desdobrou para conter o ímpeto dos donos da casa, mas o gol de Romário Caicedo deu uma vantagem preocupante aos equatorianos.
Em uma noite de muitos erros, principalmente do Mister Jesus, a sorte quis distância do Flamengo e, mesmo muito inferior tecnicamente, o Emelec largou na frente com justiça nas oitavas de final da Libertadores. Agora, é no Maracanã, quarta-feira, e é difícil imaginar que o Rubro-Negro consiga ir tão mal novamente.