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No ano de 1918, o Brasil sediaria o Sul-Americano de Football, campeonato equivalente à Copa América nos dias de hoje. Porém, naquele período, a pandemia da gripe espanhola assolou o país com mais de 30 mil mortes e fez com que o governo adiasse o torneio naquele ano.
Em 2021, no entanto, o caminho é inverso. Argentina e Colômbia, originais sedes desta edição do evento, desistiram da realização por conta da pandemia da Covid-19, exatamente como o Brasil havia feito há mais de um século.
E na segunda-feira (31), a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) confirmou a transferência da Copa América para o Brasil, com o aval do presidente da República, Jair Bolsonaro.
A repercussão da decisão da Conmebol foi grande em todo o país, e passou por muitas críticas, visto que a situação sanitária no Brasil é das piores do mundo, com mais de 465 mil mortes em decorrência da Covid-19.
O presidente Jair Bolsonaro, no entanto, se declarou a favor da realização dos jogos em terras brasileiras. “Fui instado pela CBF ontem (31), conversei com todos os ministros interessados e, de nossa parte, positivo”, disse na terça-feira (1º).
Há mais de 100 anos, quando a gripe espanhola chegou de navio ao país, pelo que os registros apontam em agosto de 1918, no porto de Recife (PE), a situação foi diferente.
O Sul-Americano de Football estava marcado para ser realizado no Rio de Janeiro. O Estado registrou mais de 600 mil infectados, o que representava dois terços da população à época.
Naquele ano, a CBD (antiga CBF) emitiu um comunicado para a Conmebol explicando que não teria condições de realizar os jogos.
Em todo o Brasil, a gripe espanhola matou mais de 30 mil pessoas, dentre eles até o Presidente da República na época, Rodrigues Alves. O campeonato pôde ser disputado seis meses depois, já em 1919, quando o Brasil sagrou-se campeão.
Ressacada à disposição para a Copa América 2021
Agora, em 2021, quatro sedes foram confirmadas pela Conmebol para a Copa América no Brasil na noite desta terça: Rio de Janeiro, Cuiabá, Goiânia e Brasília.
Apesar de não ter sido incluído, o Estado de Santa Catarina estava no páreo para ser uma das sedes do campeonato. O Avaí confirmou que colocou a Ressacada à disposição da CBF para os jogos.
O governo do Estado não chegou a se manifestar a respeito do assunto, e informou apenas que “acompanha o assunto e aguarda a confirmação da realização do evento pelo Governo Federal”.
A FCF (Federação Catarinense de Futebol) destacou que tinha interesse na realização dos jogos em Santa Catarina, caso a possibilidade se concretizasse.
O clube soube que não sediaria a competição apenas depois do anúncio oficial da Conmebol. O pedido do Avaí enviado à CBF não teve resposta.
Como a gripe espanhola afetou o esporte catarinense
Em Florianópolis, o primeiro diagnóstico da gripe espanhola foi dado em 23 de setembro de 1918. Cerca de 10 mil pessoas foram infectadas pela peste em um pico de contágio de aproximadamente 50 dias.
Naquele período, a Capital contava com uma população estimada em 40 mil pessoas.
Segundo o professor e historiador da FCC (Fundação Catarinense de Cultura) Rodrigo Rosa, os momentos são “plenamente comparáveis”.
“São cenários plenamente comparáveis, os ritmos pelos quais os vírus avançam são semelhantes. As pessoas no início duvidavam, e a imprensa à época não se propunha muito a falar. Depois que a gripe toma conta, as pessoas reagem com muito medo. A partir daí as coisas vão fechando e sendo afetadas paulatinamente”, diz.
Pesquisador da gripe espanhola em Santa Catarina, Rodrigo Rosa relata que o futebol nesta região ainda era inexpressivo, e a atividade esportiva amplamente praticada era o remo.
“E o remo sofreu com as restrições impostas pela pandemia”, afirma o historiador.
“Naquela época os esportes náuticos representavam o futebol da atualidade, principalmente o remo. Era destaque nos jornais, e as competições atraíam muito a atenção em Florianópolis. Por conta dessa popularidade, era comum nos dias de regata uma grande aglomeração de pessoas se formar para assistir a elas. E, justamente isso, a aglomeração de pessoas, era visto como o maior risco para o contágio da Gripe”.
Rodrigo Rosa continua e explica que quando a pandemia estava no auge, o governo foi obrigado a tomar medidas e evitar que o público se juntasse nos campeonatos catarinenses.
“Quando não era mais possível esconder a epidemia, aparentemente, as autoridades florianopolitanas adotaram uma estratégia de evitar publicar, abertamente, as normas impostas por força dela. De qualquer forma, elas aconteciam, e por vias indiretas chegavam às pessoas.”
Como o público continuava indo aos eventos esportivos, as autoridades passaram a aconselhar o público a não comparecer, como retrata este trecho da época:
“A direcção deste club tendo em vista os conselhos da inspectoria de Hygiene deste estado, reunida hontem, resolveu propor ao C. N. Francisco ‘Martinelli’, o adiamento da regata de 15 de novembro. Caso seja aceito este alvitre, a mesma directoria, a bem da saúde e seus < Rowers> suspenderá todos os <trainngs> officiales.”
Futebol também foi paralisado em SC
Apesar de bem menos popular que o remo na época, o futebol já tinha muitos adeptos em Santa Catarina no início do século XX, como conta o historiador da FCC.
“O futebol era um esporte que começava a ganhar adeptos e importância. Já havia competições importantes em níveis regional, nacional e internacional. No caso específico da Ilha, conforme visto anteriormente, o futebol, com certeza, perdia em popularidade para o remo, mas tinha seu espaço garantido”, explica.
Assim, também foi muito afetado pela pandemia da gripe espanhola.
“Ele foi, certamente outro esporte/lazer a sofrer por causa da epidemia, tendo suas competições oficiais suspensas. Entre o começo de outubro de 1918 e o começo de dezembro do mesmo ano, toda situação que pudesse provocar aglomeração foi prejudicada”, conclui Rodrigo Rosa.