Rui Car
23/06/2017 10h42 - Atualizado em 23/06/2017 10h44

Mãe fala abertamente sobre síndrome que causa tristeza profunda durante amamentação

Saiba mais sobre a síndrome pouco conhecida que afeta mães durante a amamentação

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Uma queda no nível de dopamina, hormônio do bem-estar, durante a amamentação, pode levar algumas mães a experimentarem sentimentos extremos de desespero e, em muitos casos, a um diagnóstico de depressão pós-parto. No entanto, uma síndrome, descoberta recentemente, pode ser a causa mais provável.

 

Cada vez que a blogueira Teagan Gambin-Johnson amamentava seu bebê recém-nascido, ela era inundada por sentimentos de ansiedade e tristeza.

 

“Meu coração ficava acelerado e minha cabeça não parava,” escreveu ela num post em seu blog intitulado “Amamentar fez com que eu me odiasse”. “Charlie pegava o peito e após algumas sugadas, o leite descia. E aí aquilo começava. O sentimento me atingia como uma tonelada de tijolos. Era uma sensação de desgraça, o maior pesar que já havia sentido na vida. Mas pesar pelo quê? Eu não sabia. Eu apressava a mamada e pouco depois de Charlie terminar, eu me sentia bem novamente”.

 

Muitos podem pensar que Teagan estava experimentando sintomas da depressão pós-parto, mas na verdade a mãe de dois filhos estava sofrendo de uma síndrome pouco conhecida chamada Reflexo Disfórico da Ejeção do Leite, ou D-MER, na sigla em inglês.

 

Acredita-se que a síndrome seja causada por uma queda repentina nos níveis do hormônio do ‘bem-estar’, a dopamina, que impede a liberação do leite materno. No lugar dos sentimentos de união e proximidade que muitas mães têm enquanto amamentam, as mães que sofrem desta síndrome costumam sentir fortes emoções negativas, que podem durar enquanto o leite continua a ser liberado.

 

Em seu blog Two Kids Raising Kids Teagan falou abertamente sobre o desespero que sentia cada vez que amamentava seus filhos.

 

“Em poucas palavras, amamentar fazia eu querer me encolher e morrer,” escreveu ela. “Não por ser doloroso (embora as primeiras semanas de seios quentes e inchados e mamilos rachados tenham sido um inferno!), mas porque eu sofri de D-MER.”

 

“D-MER significa reflexo disfórico da ejeção do leite,” ela explica. “Isso significa que meus hormônios estavam fora do controle, e a dopamina caía demais quando meu leite começava a sair. Em vez de sentir todas aquelas emoções lindas e cheias de amor, eu instantaneamente sentia como se tivesse sido atingida por um caminhão da depressão”.

 

Embora hoje Teagan saiba o que causou aqueles sentimentos, foram precisos meses de sofrimento em silêncio até que ela entendesse o que estava acontecendo.

 

“A ansiedade e a depressão que vieram com o D-MER afetaram todos os aspectos da minha vida,” explica Teagan. “Eu ficava nervosa quando estava perto de amamentar, e me sentia exausta e irritada depois da mamada. Eu ficava mal-humorada. Eu não gostava que encostassem em mim. Eu ficava enjoada e tinha dificuldade para comer. Minha paciência com Charlie e Nick era mínima, e eu fingia constantemente que tudo estava bem, quando não estava”.

 

Foi desabafando com sua madrasta que finalmente ajudou Teagan a entender o que estava acontecendo.

 

“Acabei conversando com a minha madrasta e perguntei se ela teve sentimentos semelhantes durante a amamentação,” continua Teagan.

 

“Após uma pesquisa no Google, ela veio com a resposta: D-MER. Eu li sites (www.d-mer.org) e blogs que descreviam o que eu sentia, e não sabia se ria ou chorava”.

 

O Reflexo Disfórico da Ejeção do Leite costuma ser erroneamente diagnosticado como depressão pós-parto [Foto: Pexels]
 

Teagan espera que o fato de compartilhar sua experiência, possa ajudar outras mães a perceberem que não estão sozinhas, e sua publicação incentiva cada uma delas a compartilhar suas próprias experiências na seção de comentários.

 

“Eu tenho isso, e demorei alguns meses até entender o que estava acontecendo,” escreveu certa mãe. “É literalmente terrível. Eu quase ouvia vozes na minha cabeça toda vez que o leite começava a sair. E ninguém entendia, literalmente ninguém. Minha filha tem seis meses agora e eu finalmente aceitei a ideia de alimentá-la com a fórmula infantil. Eu senti muita culpa, e embora ouçamos o tempo todo que o leite materno é melhor, eu digo que um bebê alimentado e saudável é melhor, e que a saúde mental da mãe é muito subestimada para a saúde de nossos pequenos”.

 

Embora não existam estatísticas oficiais sobre o número de mulheres que sofrem desta síndrome, os especialistas acreditam que ela pode ser mais comum do que imaginavam, pois, como sabemos tão pouco sobre ela, muitas mães costumam ser diagnosticadas com depressão pós-parto.

 

Janet Fyle, conselheira do Royal College of Midwives, no Reino Unido, disse ao Telegraph que suspeita de que algumas mulheres escolham manter seus sentimentos escondidos. Precisa haver mais consciência de que o D-MER existe,” disse ela. “Algumas mulheres talvez não admitam ter estes sentimentos porque não querem ser consideradas mães ruins por reclamarem”.

 

Teagan escolheu compartilhar suas experiências na esperança de que isso possa ajudar a aumentar a consciência sobre a síndrome e incentivar outras mães a falar abertamente sobre como estão se sentindo para que possam buscar a ajuda de que precisam.

 

“Eu não consigo imaginar o número de mulheres que sofrem sozinhas e nunca obtêm uma resposta,” disse ela. “Eu tenho a impressão de que esta síndrome não é tão incomum quanto pensamos”.

 

 

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