Rui Car
25/09/2021 10h51 - Atualizado em 25/09/2021 10h52

Dia Nacional do Rádio: A memória gloriosa em Santa Catarina

Neste sábado é comemorado o Dia Nacional do Rádio, quando esse velho companheiro de todas as horas se impôs e se reinventou diante dos mais avançados recursos tecnológicos

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rádio pode parecer uma coisa antiga, desafiada pelas modernas ferramentas de comunicação, mas sua história ainda não completou um século no país, pelas versões oficiais. E, no entanto, como mexeu com as pessoas, chocou, emocionou, impactou a vida de milhões de brasileiros!

 

Neste sábado (25) é comemorado o Dia Nacional do Rádio, quando esse velho companheiro de todas as horas é reverenciado, já com o aporte de novos recursos tecnológicos que facilitam a prestação de serviços e levam música e notícias para as latitudes que as suas ondas conseguem alcançar.

 

Em Santa Catarina, essa trajetória começou com a Rádio Clube de Blumenau, que entrou em operação em 19 de março de 1936. Até então, os catarinenses sintonizavam emissoras de outros estados, e nem os blecautes – resultado da precariedade das linhas de transmissão de energia – impediam os ouvintes de acompanhar o que acontecia no Brasil e no mundo. A baixa frequência dos receptores forçava a compra de estabilizadores para garantir uma qualidade mínima ao som emitido por aqueles aparelhos ainda precários e limitados.

 

Essas dificuldades não impediram que, com os anos, o rádio se tornasse uma coqueluche. Mesmo com a grande penetração de emissoras paulistas e cariocas como a Tupy, Nacional e Mayrink Veiga, rádios começaram a surgir em diferentes regiões de Santa Catarina.

 

A Difusora de Joinville nasceu em 1941, e em Florianópolis a Guarujá (ainda como Empresa de Propaganda Guarujá Ltda.) entrou no ar um ano depois. Na década de 1950 apareceram a Diário da Manhã (atual CBN Diário) e a Anita Garibaldi, que mantinham, como era de praxe na época, programas de auditório, radionovelas e atrações com música ao vivo.

 

As experiências pioneiras foram os serviços de alto-falante com música, notícias e propagandas, precursores das emissoras como são hoje conhecidas e que costumavam ser instalados na praça central das cidades.

 

Com menos de 50 mil habitantes, Florianópolis não escondia o trauma de ser a menor capital do país, e a chegada do rádio, na década de 1940, serviu para difundir ideias que pregavam o desenvolvimento e denunciavam as convicções e interesses de grupos econômicos e políticos locais.

 

Autor dos livros “História do rádio em Santa Catarina”, “Caros Ouvintes – Os 60 anos do rádio em Florianópolis” e “O que é rádio-teatro”, o jornalista Ricardo Medeiros lembra que o rádio catarinense teve seus anos áureos nas décadas de 1950/60, quando a televisão estava longe de chegar e as emissoras costumavam cobrir de tudo um pouco, inclusive festas paroquiais, inaugurações de clubes sociais e fatos corriqueiros que tinham por palco o espaço urbano. “Era um serviço para a comunidade, focado na utilidade pública”, afirma.

 

Interatividade com o público

 

Na dissertação de mestrado “A cidade no dial Florianópolis nas ondas médias e curtas do rádio (Décadas de 40 e 50)”, o professor Aldonei Machado faz uma análise histórica e sociológica do tema. Mostra, por exemplo, a relação das primeiras emissoras com as transformações urbanas, a sua inserção no cotidiano das pessoas e o papel que tiveram na defesa de valores e condutas sociais considerados corretos para a época.

 

Com a entrada de anúncios publicitários nas programações, o rádio também se tornou uma fonte de renda para seus proprietários, permitindo a difusão e venda de produtos, bens e serviços.

 

A febre, nas décadas iniciais, eram os programas de auditório e as radionovelas, que tinham tão ou mais relevância que os atuais folhetins da televisão. Assim, o rádio invadia bares, ruas e residências e ganhou mais peso quando surgiu o hábito popular de oferecer músicas ou parar em esquinas para ouvir as últimas notícias pelos alto-falantes das emissoras locais.

 

Em Florianópolis, era o tempo dos cinemas de rua, da confeitaria Chiquinho, do ponto de ônibus do Largo da Alfândega, da leitura de jornais à sombra da figueira da praça 15 de Novembro, das lojas A Soberana e A Modelar.

 

Antes do espaço usado pelos aparelhos de rádio dar lugar aos televisores, os receptores passaram por uma mudança importante – a troca das válvulas pelos transístores. Isso permitiu, entre outras vantagens, a redução do tamanho e o aumento da eficiência dos aparelhos. O telefone se popularizou e também impulsionou a interatividade do público com as emissoras de rádio. O último boom veio com a internet, que rompeu todas as fronteiras que ainda existiam.

 

Nomes e programas que fizeram história

 

O jornalista Ricardo Medeiros destaca entre os programas históricos das rádios da Capital o “Vanguarda”, noticioso da Guarujá, “Sequências A Modelar”, programa de variedades da Diário da Manhã, e “A hora do despertador”, com o radialista Dakir Polidoro, também na Guarujá.

 

Mas a cidade parava mesmo era para acompanhar as atrações do rádio-teatro que tinham atores e atrizes como Waldir Brazil, Rozendo Lima, Alda Jacinto, Cacilda Nocetti e Félix Kleiss, entre outros, como protagonistas. Na música, as alas se abriam para Neide Mariarrosa, Cláudio Alvim Barbosa (o Zininho, autor do hino de Florianópolis), Luiz Henrique Rosa, Nabor Ferreira e Claudino Silva.

 

Esse modelo de atração radiofônica seguia o padrão carioca, especialmente. Foi no Rio que surgiram as “estrelas do rádio”, figuras que ganharam fama comparável à dos atuais astros do cinema e das telenovelas.

 

Cantoras do Rádio, aliás, passou a denominar um grupo de artistas que fez sucesso a partir da década de 1940, consagrando sambas, boleros e marchinhas de Carmen Miranda, Aracy de Almeida, Isaurinha Garcia, Dalva de Oliveira, Dircinha e Linda Batista. Entre os homens, a lista é enorme – Orlando Silva, Francisco Alves, Nelson Gonçalves, Sílvio Caldas e muitos outros.

 

A Diário da Manhã projetou sua programação com base nas atrações da rádio Nacional do Rio de Janeiro, grande vitrine para cantores, atores e humoristas nas décadas de 40 e 50. Como lá, por aqui também cada emissora tinha o próprio cast de artistas. No jornalismo e no esporte se destacavam Antunes Severo, Cyro Barreto, José Valério Medeiros, Roberto Alves, Acy Cabral Teive, Adolfo Ziguelli, Oscar Berendt Neto e Alfredo Silva. “A cidade era provinciana, todos se conheciam, então essas pessoas eram saudadas por onde andassem”, diz Medeiros.

 

Sempre com o risco de omissões, é possível citar outras figuras exponenciais do rádio local, como Ivo Serrão Vieira (o grande pioneiro, com seu serviço de alto-falantes), Gustavo Neves Filho, Dib Cherem, Mozart Régis (o comediante Pituca), Edgard Bonassis, Aldo Silva, Darci Costa, Carminatti Júnior, Aibil Barreto, José Nazareno Coelho, Celso Freitas, Mário Ignácio Coelho, Luiz Osnildo Martinelli, Souza Miranda, Walter Ziguelli, João Ari Dutra, Fernando Linhares da Silva e Osmar Teixeira.

 

Do esporte à política partidária

 

Uma área que sempre mereceu destaque no rádio eram os esportes marítimos, como a vela e o remo. Florianópolis era passagem para as grandes regatas que iam do Rio a Buenos Aires, e os clubes de remo – Martinelli, Riachuelo e Aldo Luz – levavam multidões à orla para acompanhar as competições.

 

No futebol, além de Avaí e Figueirense, o campeonato citadino envolvia clubes como Paula Ramos, Externato, Íris, Bocaiúva e Tamandaré. Com as ondas curtas, os programas noticiosos, esportivos e musicais das emissoras de Florianópolis podiam ser ouvidos em outras regiões do Estado e do país.

 

Ricardo Medeiros lembra do grande sucesso que foi “Bar da Noite”, que a Diário da Manhã transmitia todas as sextas-feiras, no horário das 21h. O bar não existia, mas Zininho e Neide Mariarrosa criavam no estúdio um ambiente boêmio com acompanhamento do maestro Aldo Gonzaga e seu conjunto, abrindo espaço para músicos e compositores da cidade.

 

Uma emissora que marcou época foi a rádio Anita Garibaldi, criada por J. J. Barreto, que inovou apresentando notícias ao vivo de algum ponto da cidade e programas com a participação de ouvintes pelo telefone.

 

Ali foram revelados profissionais como Walter Souza, Moacir Pereira e Fenelon Damiani. Entre outras, Florianópolis ainda viu nascer emissoras como a rádio Jornal A Verdade e a rádio Santa Catarina – por esta passaram Emílio Cerri, Raul Caldas Fº, George Alberto Peixoto e Jali Meirinho.

 

Como tudo em Florianópolis, do futebol aos clubes sociais, havia das rádios a divisão entre o PSD (Partido Democrático Social) e a UDN (União Democrática Nacional).

 

Os pessedistas divulgavam suas ideias e as obras de seus eleitos (governador, prefeito) por meio da rádio Guarujá e do jornal “O Estado”. Os udenistas faziam o mesmo pelas ondas da Diário da Manhã e do jornal “Diário da Tarde”.

 

O declínio da importância do rádio deveu-se a fatores diversos, incluindo o surgimento da televisão. Para Ricardo Medeiros, o aumento dos recursos técnicos não foi acompanhado por mais qualidade na programação, nas últimas décadas. “Não há mais repórteres nas ruas”, constata.


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FOTO: ARQUIVO / RÁDIO EDUCADORA

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