Rui Car
18/03/2020 16h25

Coronavírus faz cinemas do Brasil não terem estreias pela 1ª vez

Várias salas já foram fechadas para evitar a proliferação do vírus e, mesmos a que seguem abertas, estão com baixa de público

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Pela primeira vez, os cinemas brasileiros não terão nenhuma estreia na semana. O fato inédito no país é em razão da epidemia de coronavírus, já que é recomendado que a população evite o contato social, sobretudo lugares fechados e aglomerações. Entre as produções que deveriam entrar em cartaz nesta quinta-feira (19) estavam Um Lugar Silencioso – Parte 2 e Tel Aviv Em Chamas, eleito o melhor filme estrangeiro no Oscar 2020.

 

Muitas redes, inclusive, anunciaram o fechamento das salas. É o caso do Espaço Itaú de Cinema e da Kinoplex. Outras seguem abertas e, apesar de adotarem medidas extras de limpeza, a presença do público já não é tão certa.

 

É o caso de Maria Morales. Estudante de jornalismo pela PUC-SP, ela parou de ir aos cinemas no dia 7 de março. Maria descobriu um linfoma em 2019 e havia terminado a quimioterapia em fevereiro deste ano. “Parei de ir quando a OMS classificou o coronavírus como pandemia. Como eu sou paciente oncológica – tinha exatamente um mês da minha última quimioterapia quando declararam – eu ainda faço parte do grupo de risco por conta da imunidade. Foi aí que percebi que não poderia mais fazer um monte de coisa”, contou.

 

 

A estudante também entregou que descobrir a notícia foi “péssimo”. “Fiquei superchateada porque eu tinha acabado de ser liberada para a vida fora da quarentena e vi a quarentena voltando para minha vida. Na hora, confesso que nem me toquei do lance do cinema. Foi quando li uma notícia que, no Rio de Janeiro estavam fechando as salas, que entendi o que estava acontecendo”, disse.

 

Para quem ainda vai aos filmes, o cenário pode ser sempre surpreendente. Dora Faria, estudante de economia na USP (Universidade de São Paulo), foi com o namorado no Shopping Eldorado, em São Paulo, no domingo (16), assistir Parasita. “Tinham exatamente quatro pessoas na nossa sessão”, contou.

 

Situação parecida encontrou o funcionário público Guilherme Bloisi um dia antes para ver Sonic. “Estava muito vazio. Tinham algumas pessoas, mas de longe, não parecia uma movimentação de um shopping ou de um cinema no sábado”, contou.

 

Já a analista de mercado Marcella Antunes teve uma surpresa. Na sexta-feira (13), foi com o namorado ao Shopping Market Place, em São Paulo. “Quando fui comprar o ingresso, tinham seis assentos vendidos, contando comigo e meu namorado. De repente, a sala encheu de gente.”

 

Salas fechadas e higienização

O Espaço Itaú de Cinema fechará temporariamente todas as salas nesta quinta-feira. As unidades estão em São Paulo, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Salvador e Rio de Janeiro. Já na rede Kinoplex, a interrupção total já acontece no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Distrito Federal. Em Goiânia e Manaus, os cinemas serão fechados hoje e, para os demais lugares, ainda não há confirmação.

 

Nesta semana, o Cine Belas Artes, em São Paulo, também anunciou o fechamento do local por tempo indeterminado. A rede PlayArte, até o momento, segue a programação normal das salas. “Toda equipe de limpeza está focada para que áreas de maior contato, como corrimãos, balcão, assentos e braços das poltronas sejam limpos com maior frequência. Também estamos monitorando todas as sessões, aconselhando os clientes a manterem uma distância segura entre as poltronas”, disse em nota.

 

Redes como Cinemark, Cinépolis e UCI afirmaram seguir a Feneec (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas). A entidade pediu, em carta aberta, que os governos locais determinem o fechamento dos espaços — como já aconteceu no Rio de Janeiro.

 

“A Feneec vem a público pedir aos governadores e prefeitos que determinem o fechamento das salas de cinema de seus estados e cidades, na forma da lei. As empresas exibidoras entendem que a grave situação colocada pela pandemia da Covid-19 é urgente e demanda uma resposta rápida que somente o Estado está habilitado a tomar. Infelizmente o fechamento das salas por iniciativa das empresas demandaria negociações com cada uma das empresas administradoras de cada shopping onde existe uma sala de cinema, o que seria penoso e lento. Os shoppings pertencem a diferentes grupos econômicos, com participação de investidores, fundos de previdência, fundações e outros, o que demandaria diversas instâncias de negociação, resultando num prazo para solução dos problemas que a saúde pública não tem. O bem-estar dos espectadores de cinema e dos funcionários das empresas de cinema é hoje a nossa prioridade”, disse a instituição.

 

A rede Cinemark complementa: “Nas cidades onde as salas de cinema ainda não foram fechadas pelos governos locais, a Rede já orientou sua equipe sobre como agir, especialmente no que se refere a cuidados de higiene manual dos próprios funcionários e sobre a limpeza das salas, além de oferecer todo o suporte necessário para a aplicação dessas normas.”

 

*Estagiária do R7, sob supervisão de Thiago Calil

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