Rui Car
26/05/2020 08h35

Muito longe da “retomada” e perto de mais crise

Nos últimos anos, a palavra mais usada – e desgastada – pelos que recusam a ideia de que o desenvolvimento brasileiro depende de um Estado que interfira, de forma ativa, na economia

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A manchete da Folha, neste momento – Real ganha status de moeda tóxica com aversão a riscos fiscal e político – é uma evidência de que o “plano” de Paulo Guedes (e até agora, do Governo Bolsonaro) para o pós-pandemia é, literalmente, nenhum. As informações são da 

 

A ideia de que afluxos de capital estrangeiro – lembra daqueles que viriam logo com a derrubada de Dilma Rousseff? – virão recuperar a nossa economia é, no meio da mais profunda crise econômica vivida pelo mundo desde 1929 (senão maior) não é apenas um engano, como antes, mas uma rematada tolice, e tolice desastrosa.

 

Todas os indicadores econômicos que se tem, hoje, estão longe de revelar a retração da economia. Ao contrário do que ocorre com o vírus, a doença e a morte das empresas não vem de forma aguda, porque sempre há gordura para queimar por dois ou três meses.

 

A questão é que, depois deste prazo, o que haverá de demanda para seguir com atividades que permanecerão deprimidas – e muito deprimidas – durante um largo tempo e, agora, sem estas reservas e com o peso de créditos bancários tomados durante a pandemia para sobreviver.

 

A interrupção do auxílio emergencial, claro, vai causar tombo imenso no consumo naquilo que ele não tombou estrepitosamente ainda: no setor de alimentos, remédios e artigos de residência. Os que já haviam despencado, sobretudo os de bens duráveis e semiduráveis, seguirão longos meses em banho-maria, em fogo muito brando.

 

É evidente, até para economistas conservadores, que não se poderá pretender quer uma pequena recuperação sem que o Estado a alavanque, mas isso é tabu para a equipe econômica de Guedes. É por isso que o valor de mercado de Paulo Guedes caiu muito mais do que os papéis do mercado financeiro.

 

Bolsonaro o cozinhará por algum tempo, mas sua cabeça será mais uma a ser cortada, como todas as que se alinharam e se humilharam ao seu projeto autoritário.

 

Por Fernando Brito · Tijolaço – JAV

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