E mesmo com um dos maiores indíces de pessoas curadas no mundo (144.400 pessoas recuperadas), os alemães estão preocupados com uma possível subida repentina do surto. Neste cenário, o futebol tem sinal verde para regressar e colocará o país como modelo, positivo ou negativo, já que será a primeira grande liga a retornar.
Com o aceno positivo dado por Angela Merkel, a DFL (Federação Alemã de Futebol) deflagrou um plano ousado para o retorno da Bundesliga. Com nove rodadas restantes, a ideia da entidade é terminar a competição até do dia 27 de junho. Para isso, foi feita, na última quinta-feira, a reunião com os 36 clubes representantes das duas principais divisões do país, acertando pormenores do retorno.
Testes, testes e isolamento
O primeiro passo foi a realização de testes em larga escala dentro das equipes. Cinco laboratórios particulares especializados firmaram parceria com a DFL para executar o plano de testagem por fases. Na primeira rodada de testes, 1724 exames foram feitos com atletas, comissões técnicas, staff e funcionários no entorno das equipes. Apenas 10 pessoas foram diagnosticadas com COVID-19.
No início desta semana, mais 1650 testes foram feitos. Alias, a Alemanha é referência no número de testes que aplica nos seus habitantes, são 818 mil amostras por semana, sendo o terceiro país que mais faz o processo, atrás apenas de EUA e Rússia. O futebol profissional vai absorver apenas 0,4% deste volume. Estima-se que serão necessários 25 mil testes até o final da temporada, um investimento de 2,5 milhões de euros.
Os familiares dos jogadores também poderão ser testados nos próximos dias, voluntariamente. Além dos exames, um período de confinamento obrigatório para cada equipe foi estipulado. Para a 26ª rodada do Campeonato Alemão, os times ficarão 7 dias em isolamento, em hotéis ou centro de treinamentos, para evitar qualquer contato com o mundo exterior. O Bayern de Munique, por exemplo, irá utilizar o Infinity Hotel, maior hotel e centro de conferências no sudeste alemão, como quartel general antes das partidas em casa.
Em entrevista exclusiva ao Esporte Interativo, o meia-atacante Paulinho, do Bayer Leverkusen, disse que esse isolamento será apenas para a primeira partida pós regresso da competição: “São 7 dias de confinamento num hotel, de segunda a segunda. Depois passaram pra gente que tudo vai ficar normal. O isolamento será feito em casa. Se essa quarentena pré partidas continuasse, teríamos que ficar em isolamento até o campeonato acabar, o que seria muito ruim. A indicação é que continuaremos fazendo testes semanais”, relata.
Depois das primeiras rodadas de testes, o caso mais preocupante é o do Dynamo Dresden, da segunda divisão do futebol alemão, que decretou quarentena para todos os seus jogadores e comissão técnica após detectar dois novos casos positivos para coronavírus. Assim, a equipe não poderá disputar seu primeiro jogo da retomada do campeonato, programada para o próximo sábado. Todos os jogadores, técnicos e funcionários do Dynamo Dresden terão de passar 14 dias isolados, após o período terão os jogos remarcados.
Pressão financeira para o regresso
O retorno da Bundesliga aprovado pelo Governo foi comemorado à exaustão pela DFL e pelos clubes alemães. O presidente executivo do Bayern de Munique, Karl-Heinz Rummenigge, agradeceu Angela Merkel, salientando: “vão permitir que as decisões esportivas sejam tomadas no campo e não numa sala de reuniões”.
O diretor executivo do Borussia Dortmund, Hans-Joachim Watzke, enfatizou “a conduta magnífica do povo alemão no combate ao novo coronavírus”, explicando que o clube vai “fazer tudo o que for possível para garantir a segurança dos jogadores e das suas famílias”.
Já o diretor executivo do RB Leipzig, Oliver Mintzlaff, lamentou as arquibancadas vazias, mas ressaltou: “de forma a evitar um rombo ainda maior nas finanças dos clubes, jogar sem público é a única opção”.
O futuro financeiro dos clubes e do mercado do futebol na Alemanha foi fundamental na decisão do Governo. Uma pressão política enorme foi feita para que a Bundesliga não seguisse o exemplo dos seus vizinhos Holanda e França, que cancelaram, cada um à sua maneira, a temporada futebolística. Os números mostram que, caso o Campeonato Alemão não fosse concluído, muitas equipes poderiam ir à falência.
No dia 23 de abril, a DFL conseguiu garantir junto aos veículos de comunicação, responsáveis pela transmissão da competição, o adiantamento das cotas de TV relativas aos meses que completam a temporada. A conclusão destas negociações forneceu liquidez a todos os clubes da Bundesliga e da Bundesliga 2, de forma gradual, até ao dia 30 de junho.
Fonte: Esporte Interativo