Rui Car
12/10/2020 09h23

Novo teste usa Crispr para detectar coronavírus em 5 minutos

Jennifer Doudna ganhou o Nobel nesta semana pelo método de edição genética, e agora criou um teste rápido para Covid-19 usando essa ferramenta

Assistência Familiar Alto Vale
Foto: Paul Biris/Getty Images

Foto: Paul Biris/Getty Images

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Uma equipe de cientistas anunciou o desenvolvimento de um teste que detecta o SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19, em apenas cinco minutos. O novo teste aposta na técnica conhecida como Crispr, um método de edição genética que acaba de ganhar o Prêmio Nobel de Química de 2020.

 

Uma das responsáveis pela criação do novo teste é justamente Jennifer Doudna, pesquisadora americana que desenvolveu o método Crispr em conjunto com a francesa Emmanuelle Charpentier em 2012. O Nobel foi dividido entre as duas. Doudna evidentemente é uma das maiores autoridades da tecnologia que ela mesmo criou, e está explorando seu uso em outras áreas para além da edição genética.

 

O Crispr é uma técnica complexa, que você pode entender melhor nesse texto. Em resumo, ele funciona como uma espécie de “tesoura” microscópica, capaz de remover partes específicas do DNA de quaisquer seres vivos e inserir novas partes no lugar.

 

Assim, é possível eliminar trechos indesejados da sequência de letrinhas do genoma e substituí-los por trechos equivalente e saudáveis. Tudo isso, em teoria, sem interferir nos genes que estão em volta. Trata-se da ferramenta mais valiosa da engenharia genética nas últimas décadas, com aplicações potenciais em muitos campos – como o combate à pandemia.

 

O teste Crispr original

 

Em maio, duas equipes de cientistas já haviam anunciado uma tecnologia preliminar que utilizava a proteína Crispr para identificar o coronavírus em apenas uma hora – bem mais rápido do que as 24 horas usuais de um teste RT-PCR, considerado padrão-ouro pelas autoridades de saúde e utilizado nas contagens oficiais.

 

Esse teste funcionava da seguinte forma. O primeiro passo é introduzir, nas amostras coletadas dos pacientes, pedaços de molécula de RNA conhecidos como “guias” – que são capazes de se ligar a trechos específicos do RNA do vírus (o novo coronavírus não guarda sua informação genética em DNA, como nós fazemos).

 

Uma vez que as guias estejam ligadas aos pedaços de RNA do vírus, a proteína Crispr pode entrar em cena. A Crispr identifica as partes do RNA viral que estão sinalizadas pelas guias e corta esses trechos como uma tesoura, separando-os do restante do material genético do vírus. Graças a adição de uma substância fluorescente, esses pedaços de RNA viral brilham – acusando a presença do vírus na amostra.

 

O único defeito é que esse teste exigia primeiro amplificar a quantidade de RNA viral – que, normalmente, é quase imperceptível –, e só depois realizar a detecção. Essa fase extra adiciona tempo, custo e complexidade ao processo.

 

A novidade de Doudna

 

Agora, foi a vez da própria Doudna desenvolver um teste baseado na Crispr, que dispensa a etapa de amplificar o material genético do vírus antes de detectá-lo.

 

Ela e sua equipe passaram meses testando diferentes guias – aquelas que se conectam ao RNA viral para sinalizar onde a Crispr deve cortar – e identificaram várias sequências diferentes capazes de acusar a presença do vírus.

 

Essas guias, utilizadas em conjunto, aumentam a precisão do teste sem a necessidade de amplificar o RNA. Por isso, permitem que o resultado saia em apenas cinco minutos.

 

Além do tempo, o teste tem uma outra vantagem em relação aos métodos utilizados atualmente: identificar com uma certa precisão a carga viral do paciente. Em testes que o RNA viral precisa ser amplificado para ser detectado, não dá para saber a quantidade de vírus que a amostra inicial possuía – afinal, ela foi propositalmente aumentada no processo.

 

Como o novo teste não modifica a carga viral, é possível saber mais ou menos a quantidade de vírus que o paciente carrega: quanto mais brilho fluorescente, mais corona. Essa informação pode ajudar médicos a adaptar o tratamento às necessidades de cada paciente.

 

A equipe já anunciou que está procurando meios de viabilizar a aplicação do teste em larga escala. Por enquanto, o método está descrito em um artigo científico na fase de pre print, ou seja: um artigo que ainda não passou por revisão. Você pode consultá-lo aqui.

 

FONTE: SUPERINTERESSANTE

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