Rui Car
09/01/2017 17h11 - Atualizado em 09/01/2017 15h38

Casal de SC passou um ano percorrendo nove países de bicicleta

Taline e Acauã deixaram a cidade em dezembro de 2015, com destino ao Canadá

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Taline e Acauã Rolim são daquele tipo de pessoas que fazem da bicicleta, mais do que um simples meio de transporte, uma extensão de suas personalidades. No casamento deles, por exemplo, ela entrou na igreja na garupa da “zica” guiada pelo pai. Natural, portanto, que o jovem casal de Joinville se metesse a fazer algumas “loucurinhas” sobre duas rodas, como pedalar de Florianópolis até a serra do Tabuleiro, em setembro de 2015.

 

Só que, três meses depois, ele embarcou numa empreitada muito mais duradoura, ousada e arriscada: passar quase dois anos percorrendo e “sentindo” as Américas de bicicleta. Após 12 meses na estrada, nove países percorridos e uma mudança de planos, Taline e Acauã retornaram a Joinville na segunda-feira, 2 de janeiro.

 

A viagem começou a ser desenhada na metade de 2014 como uma experiência intercontinental que marcasse de várias formas as vidas de Taline, 26 anos, e Acauã, 24. Vieram pesquisas, orçamentos e depoimentos de outras pessoas, e a conclusão foi de que o melhor seria fazer a trip de bicicleta mesmo, uma paixão em comum dos dois e usada por eles no dia a dia na Capital, onde moravam.

 

– A gente ama bicicleta, e ela tem muito disso de ir devagar, conhecendo os lugares e as pessoas – aponta Taline.

 

Batido o martelo e apoiado pelas famílias, o casal largou os respectivos empregos – ela, arquiteta ele, missionário na Udesc – e partiu de Joinville no dia 25 de dezembro de 2015 carregando bolsas com roupas, equipamentos para camping e de cozinha, fogareiro, ferramentas para manutenção das bicicletas, câmeras e notebooks.

 

O plano original consistia em passar 22 meses viajando e chegar até a Costa Leste dos Estados Unidos. No caminho, entre outras vivências, aprender o máximo possível sobre café, incluindo fazer cursos e conhecer cafeterias, torrefadores e fazendas produtoras do grão. Daí o nome do projeto, Amorbikecafe, devidamente transformado em diário de viagem no Facebook e no Instagram.

 

Desse modo, Acauã e Taline visitaram Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia, encarando sol massacrante, frio, neve, ventos fortes e altitudes que chegavam a 5 mil metros. Um verdadeiro teste físico e psicológico que os fez hesitarem vez ou outra. A cada localidade alcançada, havia sempre o desafio de encontrar comida e um lugar seguro para montar a barraca e descansar. Como existem pouquíssimos campings na América do Sul, o casal costumeiramente batia na casa de moradores, pedindo para usar o jardim como abrigo. Na maioria das vezes, receberam convite para entrar, sentar à mesa e usufruir de camas de verdade.

 

– A hospitalidade esteve presente em todos os lugares. O maior aprendizado sobre o amor que tivemos é que o desconhecido pode vir a ser seu maior amigo – diz Taline.
– O mundo parece muito mais violento pela TV do que realmente é quando você viaja – completa Acauã.

 

Claro que, numa empreitada desta magnitude, também houver “perrengues”. Acauã contraiu uma bactéria e teve problemas estomacais no Peru e na Bolívia. Nos mesmos países, eles passaram por maus bocados dentro de vans que levavam turistas para conhecer fazendas de café, que, em geral, ficam em regiões altas e distantes das cidades. Em estradas perigosas, carros lotados e ao lado de motoristas camicases, eles sentiram saudades do pedalar tranquilo sobre as bikes.

 

– Principalmente, o que fez a gente continuar quando sentíamos dificuldades era estarmos juntos e um incentivar o outro. Isso foi essencial para a gente desfrutar essa viagem e seguir até o final. E também a vontade de aprender mais e conhecer mais pessoas – afirma Acauã.

 

Em busca de conhecimento e experiências

Mesmo assim, a falta de casa e da família levou Taline e Acauã a abreviarem a aventura. Depois de aproximadamente oito meses na estrada, eles decidiram “pular” a América Central. Pegaram um voo na cidade colombiana de Santa Marta e desembarcaram em San Diego, ponto de partida da última etapa da viagem: percorrer parte da faixa litorânea americana, o que lhes ofereceu paisagens e estilos de vida completamente diferentes do que tinham visto até então. No que as bicicletas estacionaram em Seattle, o casal havia deixado 9,5 mil quilômetros para trás. Era hora de voltar, desta vez, refazendo o caminho de avião.

 

Em Joinville há poucos dias, Taline e Acauã falaram com calma sobre o futuro à reportagem. Além de arrumarem a casa, rever amigos e familiares e retomar a vida profissional, eles pretendem se envolver, de alguma forma, com a discussão sobre mobilidade urbana na cidade.

 

– Queremos somar, ser cidadãos ativos, nos juntar com outras pessoas que já estão fazendo isso – adianta Acauã, que também planeja estudar ainda mais sobre café e, quem sabe, transformar isso em negócio.

 

Entretanto, depois de um ano pedalando, conhecendo lugares e acumulando experiências, o que eles menos têm é pressa.

 

– Uma coisa que a gente aprendeu nessa viagem foi ter paciência, pedalar devagar, porque vamos chegar – conclui Taline.

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