Rui Car
05/09/2019 08h22

Grêmio afunda em sucessão de erros, tem pior jogo do ano e põe pressão para Libertadores

Tricolor "não joga nada" e vê chance de hexa da Copa do Brasil se esfumaçar na Baixada

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Globo Esporte

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Ao final de 90 e poucos minutos, o Grêmio deixou o torcedor com o queixo caído. Mas não por uma classificação épica, como na semana passada contra o Palmeiras, na Libertadores. Fez água a uma vantagem de 2 a 0 construída no primeiro jogo da semifinal da Copa do Brasil com pouquíssimo futebol e acabou eliminado pelo Athletico na noite de quarta-feira, na Arena da Baixada. Uma sucessão de erros gremistas levou a uma eliminação improvável no drama dos pênaltis.

 

Um dos poucos a falar após a queda, o diretor de futebol Alberto Guerra apontou este como o pior jogo da temporada. Nas redes sociais, os torcedores não mediram palavras. Muitos usaram “fiasco” e “vexame” para classificar a atuação. Renato foi mais comedido, mas disse que o time “não jogou nada”.

 

– Grêmio teve algumas atuações muito abaixo neste ano. Acho que a daqui ainda foi pior que em Santiago (contra a Universidad Católica, pela Libertadores). Sempre que precisou decidir, jogou bem e conseguiu classificação. Hoje foi a primeira eliminação. Mas é seguir trabalhando, esperar baixar a poeira, todo mundo de cabeça quente – analisou Guerra.

 

 

Renato disse que Grêmio "não jogou nada" — Foto: Lucas Uebel/GrêmioRenato disse que Grêmio "não jogou nada" — Foto: Lucas Uebel/Grêmio

Renato disse que Grêmio “não jogou nada” — Foto: Lucas Uebel/Grêmio

 
 

Sentado na vantagem

A atuação tem, claro, participação do Athletico. O técnico Tiago Nunes usou a mesma estratégia de Porto Alegre, povoou o meio, mas não usou Lucho González, substituído por Léo Cittadini, o que fez toda a diferença.

 

Mas a apatia mostrada pelo Grêmio assustou. Não soube sair do jogo proposto pelo adversário, não se fechou e nem especulou no contra-ataque. Parecia sentado na vantagem de 2 a 0 feita em Porto Alegre.

 

 

Grêmio não conseguiu parar meio do Athletico — Foto: Jonathan Campos/Gazeta do PovoGrêmio não conseguiu parar meio do Athletico — Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Grêmio não conseguiu parar meio do Athletico — Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

 

Na prática, porém, isso não ocorreu. Rômulo não protegeu a zaga e Matheus Henrique não conseguiu ser dublê de Maicon para dar controle ao meio-campo. O resultado foi uma equipe viciada em chutões e lançamentos longos.

 

– O Grêmio não estava conseguindo jogar. Recuperava e entregava a bola de novo para o adversário muito facilmente. Isso fez com o que o adversário crescesse na partida, nos empurrasse para trás – analisou Renato Gaúcho.

 

Erros defensivos

O primeiro gol do Athletico saiu aos 16 minutos, com Nikão. Naquele momento, o Grêmio se encontrava com um jogador a menos. O lateral-direito Leonardo sentiu o joelho direito após disputa pelo alto e estava fora de campo. Galhardo ainda não havia entrado.

 

O Athletico aproveitou a brecha e criou justamente por aquele lado. Geromel saiu para fazer a cobertura de Alisson, então lateral. Portanto, a linha de defesa em total desorganização.

 

 

O gol de Marco Ruben, aos três minutos do segundo tempo, foi uma antecipação do argentino sobre o capitão gremista. Mas outra vez pelo lado direito. Galhardo e Alisson deram liberdade para Rony fazer o cruzamento na área.

 

O centroavante, velho carrasco gremista, pulou na frente de Geromel com facilidade. Matheus Henrique, sem marcação na entrada da área, poderia afundar para dar uma sobra aos defensores.

 

– Num momento crítico da partida, já não tínhamos mais o Leonardo e ainda tomamos o gol. Depois tomamos o segundo gol no início do segundo tempo e a expulsão do Kannemann. Não foi a noite do Grêmio. Foi a noite do Athletico – admitiu Renato.

 

Expulsão de Kannemann

O jogo já estava 2 a 0 para o Athletico. Se havia alguma possibilidade de reação – e não parecia haver -, ela foi por água abaixo com a expulsão de Kannemann. O zagueiro argentino deu uma entrada dura ao parar contra-ataque puxado por Léo Cittadini.

 

 

A falta era inevitável, pela superioridade numérica dos jogadores rubro-negros no lance. Mas a força determinou o cartão vermelho.

 

André saiu para David Braz refazer a linha defensiva. E o poder de fogo, já baixo, desapareceu. O Grêmio não conseguiu sair de perto da sua área, embora não tenha levado outro gol e arrastado a decisão para os pênaltis.

 

A controvérsia do VAR

Antes do primeiro gol do Athletico, o Grêmio reclamou de pênalti. Geromel subiu para cabecear e desviou a bola, que foi no braço de Wellington. O árbitro Wagner Magalhães foi até o monitor para ver o lance, mas interpretou como normal.

 

Nas entrevistas depois do jogo, o diretor Alberto Guerra e o técnico Renato Gaúcho reclamaram da decisão da arbitragem.

 

– Não posso deixar de dizer que foi pênalti, mudaria todo o panorama do jogo. Assistindo ao jogo ao vivo ficou muito claro, sem televisão. Modifica muito o jogo. Mais uma vez, nesse ano, nos foi sonegado (o pênalti) – declarou Guerra.

 

As ausências

Maicon e Everton fizeram muita falta. Apesar de estar no banco, o meio-campista não tinha condições de jogo por conta de dores na panturrilha direita. Sem ele, o controle no meio-campo inexistiu. O Grêmio passou a fazer um jogo de transição (ataque em velocidade), algo que não está acostumado.

 

Por suspensão, Everton ficou fora da partida decisiva e ouviu um puxão de orelha de Renato na entrevista depois do jogo. O camisa 11 levou o terceiro cartão amarelo por uma falta incomum na Arena, um carrinho por trás na marcação na altura do meio-campo.

 

– O meio-campo do Grêmio com o Maicon funciona de uma maneira diferente, envolve mais o adversário. Mas poderíamos ter, tínhamos uma vantagem boa, poderíamos ter defendido melhor e conseguir a classificação mesmo assim. O Everton também é uma válvula de escape muito boa, muito qualificada – analisou o vice de futebol Duda Kroeff.

 

Maicon jogou na Arena, mas não esteve na Arena da Baixada — Foto: Albari Rosa/Gazeta do PovoMaicon jogou na Arena, mas não esteve na Arena da Baixada — Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Maicon jogou na Arena, mas não esteve na Arena da Baixada — Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Libertadores ganha peso maior

A Copa do Brasil se oferecia como uma chance mais palpável de título em 2019. Afinal, o Grêmio ostentava uma vantagem de dois gols na semifinal. A eliminação põe uma carga sobre o grupo, que não deu entrevistas ao deixar a Arena da Baixada.

 

– Pode ser mola propulsora para ir contra o Flamengo (na semifinal da Libertadores) com mais faca nos dentes, se é que precisa. Vestir essa camiseta já é uma motivação por si só, não precisa de mais motivação que estar no Grêmio. Mas teremos tempo para nos preparar, o Flamengo é um grande adversário – comentou Guerra.

 

Grêmio terá de se remobilizar para Libertadores — Foto: Jonathan Campos/Gazeta do PovoGrêmio terá de se remobilizar para Libertadores — Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Grêmio terá de se remobilizar para Libertadores — Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

 

O elenco já mostrou capacidade de reação nesta temporada: quando esteve próximo de ser eliminado na primeira fase da Libertadores e na semana passada, ao reverter uma derrota em casa para o Palmeiras e fazer 2 a 1 no Pacaembu. Terá pela frente o Flamengo, recheado de craques e qualidade técnica.

 

Neste duelo da Libertadores, Renato precisará mais do que nunca usar sua capacidade de ajustar os erros e mobilizar um elenco experiente e vencedor. A competição continental é o principal caminho para terminar o ano com uma conquista.

 

No Brasileirão, o Grêmio é apenas o 11º, distante 14 pontos do líder Flamengo e nove atrás do São Paulo, quarto colocado. Nesta quinta-feira, o elenco viaja direto para Belo Horizonte. O próximo compromisso será às 11h de domingo, contra o Cruzeiro, no Mineirão.

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