Rui Car
10/12/2019 16h35

Fernando Prass se despede do Palmeiras e diz não ter renovado por estratégia de Mattos

"Esperava encerrar a carreira aqui", diz o goleiro, em entrevista na Academia de Futebol

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Fernando Prass se despediu do Palmeiras nesta terça-feira. Depois de sete temporadas, 274 partidas, um gol marcado e quatro títulos conquistados, o goleiro deu sua última entrevista coletiva na Academia de Futebol.

 

Antes de receber das mãos do presidente Maurício Galiotte uma placa e um quadro com uma camisa do clube, com seu nome e o número 1 às costas, o goleiro ouviu agradecimentos do dirigente.

 

– Os jogadores têm ciclo, mas o ídolo é eterno. Prass, em nome de todas as torcidas espalhadas pelo Brasil, em nome de todos os palmeirenses, da diretoria, eu agradeço muito aos serviços prestados e digo que você é um grande ídolo. Ídolo não se despede, essa aqui é sua casa para sempre. Você estará para sempre na nossa história – disse Galiotte.

 

 
 

Fernando Prass e Maurício Galiotte: goleiro recebeu placa — Foto: Felipe ZitoFernando Prass e Maurício Galiotte: goleiro recebeu placa — Foto: Felipe Zito

Fernando Prass e Maurício Galiotte: goleiro recebeu placa — Foto: Felipe Zito

 

Por que Fernando Prass não ficou?

Na conversa com os jornalistas, o jogador de 41 anos afirmou que esperava encerrar a carreira no clube, mas tomou conhecimento de que, no planejamento traçado pela diretoria, somente um dos goleiros veteranos ficaria. Mais tarde, soube que Alexandre Mattos já havia dado na temporada passada um contrato maior a Jailson.

 

– É difícil falar que esperava mais da diretoria. O Palmeiras tem planejamento. A minha situação de ficar ou não no Palmeiras foi mais administrativa do que técnica (…) O antigo diretor (Alexandre Mattos) teve uma estratégia contratual que deixou mais ou menos meu destino selado aqui. Pelo que se criou, eu mesmo achei que era melhor… Melhor, não. Que não tinha muitas possibilidades de permanecer aqui. Última coisa que quero fazer é atrapalhar o planejamento do clube – disse o goleiro.

 

– Sempre disse que minha intenção era encerrar a carreira no Palmeiras, que eu me vejo treinando em alto nível. Os índices físicos são excelentes. Nos jogos que fui chamado para jogar foi um desempenho bom. Esperava encerrar minha carreira aqui. Sempre falei que não depende só de uma pessoa. Sempre fui um cara muito competitivo. Se eu já era determinado, pode ter certeza que vou fazer um pouco mais.

 

 
 

Fernando Prass no adeus ao Palmeiras — Foto: Van Campos / Estadão ConteúdoFernando Prass no adeus ao Palmeiras — Foto: Van Campos / Estadão Conteúdo

Fernando Prass no adeus ao Palmeiras — Foto: Van Campos / Estadão Conteúdo

 

Ainda sobre a tentativa de renovação, Prass afirmou que soube da permanência de Jailson em bate-papo com o goleiro e o agora ex-zagueiro Edu Dracena, três dos atletas que tinham contrato até o fim do ano. Nas tratativas com a diretoria, porém, o acerto com o parceiro de posição foi negado pelo clube.

 

– Teve uma época em que eu tive alguns pedidos de entrevista negados. Em certo momento, me disseram que era porque estava em fim de contrato, era para ser preservado. Casualmente toquei no assunto com Jailson e Edu Dracena. O Jailson disse que já tinha contrato para o ano que vem – iniciou, antes de prosseguir.

 

 

– Umas três semanas atrás, o Alexandre disse que precisava resolver minha situação e do Jailson, porque o Dracena ia se aposentar. Depois, numa reunião do meu empresário com o Alexandre, questionado a respeito disso, o Alexandre disse que não havia nada disso, de contrato definido. O planejamento que o Palmeiras me passou é de que, dos dois goleiros, um deles ficaria. Dois grandes goleiros, um tendo contrato, o outro não tendo, é muito dedutível, é fácil de se deduzir qual a probabilidade de um e de outro.

 

Leia outros trechos da entrevista:

Momento mais marcante

– A luz do Marcos vai ficar por aqui por muito tempo, não tem como apagar. O momento mais marcante foi não só o pênalti, mas aquela final contra o Santos. Para quem viu só o jogo não entende o contexto. O contexto vem desde 2014, um ano em que a gente teve muita dificuldade, a rivalidade com o Santos, o mosaico da torcida, o pênalti defendido, o pênalti feito. Foi o momento mais marcante. O mais difícil foi 2014, quebrei o cotovelo, num jogo contra o Flamengo, tive dificuldade para voltar, porque foi uma lesão complicada. Eu me lembro que estava com muita dor para treinar. Decidiram tirar o fio e o pino do cotovelo, não melhorou. Continuei com muita dor. Fiz outro tratamento, e aí me aliviou bastante. Fiz um treino e voltei a jogar. Aquele momento foi o mais difícil, pelo momento do clube e a dificuldade para jogar.

 

Intensidade do clube

– Aqui não tem meio termo. Tem as oscilações dentro do período, de vitórias, derrotas, comemoração, cobrança. E posso dizer que vivi o 8 e o 80 de reestruturação do clube. Peguei o momento ruim e saio agora num momento muito bom. Quando se mexe com paixão, e o Palmeiras é um clube de italianos, um sangue bem quente, a gente vive muito disso aqui. Mas falar que prefiro viver intensamente assim do que numa situação de calmaria, de tranquilidade.

 

Futuro da carreira

– Durante o fim de semana, praticamente desliguei meu telefone. Combinei com meu empresário que depois que desse a coletiva, me desvinculasse realmente do Palmeiras, eu começaria a tratar disso. Sem vir aqui, sem explicar, sem agradecer à torcida, eu estaria muito focado aqui ainda. A partir de hoje à tarde, eu começo a pensar nisso.

 

 

Fernando Prass na entrevista coletiva — Foto: Felipe ZitoFernando Prass na entrevista coletiva — Foto: Felipe Zito

Fernando Prass na entrevista coletiva — Foto: Felipe Zito

 

– Sou apaixonado pelo futebol, então é óbvio que sei que a carreira vai chegar ao fim, isso gera preocupação. Desde os 35, 36 anos, quando cheguei ao Palmeiras, você começa a pensar o que fazer. Eu me lembro que quando renovei contrato com o Vasco, era meu último contrato. Depois vim para o Palmeiras, renovei por mais dois, por mais um, por mais um, e vou jogar mais um ano. É claro que venho me preparando para encerrar. Com 38 anos, fui convocado para a seleção olímpica. Sempre tem as dificuldades.

 

Despedida na arena

– Sem dúvida nenhuma, é um estádio que marcou minha carreira. Desde 2014, os dois últimos do campeonato, o título de 2015, o jogo de 2016, quando entro no lugar do Jailson, depois de ter quebrado o cotovelo. Agora, em relação a futuro, a despedida, não vou pensar agora. Porque não sei onde vou estar, em qual clube vou estar. Deixo para pensar mais para frente.

 

Últimos momentos de clube

– No penúltimo dia, estava numa confraternização com o pessoal, e me chamaram para uma reunião às 15h. No outro dia, o sábado, a véspera do jogo, que vim me despedir do pessoal. Cheguei próximo do começo do treino já, o pessoal até estranhou, porque cheguei vestido. Óbvio que não tem como não se emocionar numa hora dessas. Agradeci ao pessoal, desejei sorte. Agradeci pelo convívio, lamentei não poder estar com eles no ano que vem. É importante ganhar títulos, ter reconhecimento financeiro, mas as recompensas humanas, para mim, é o que mais me gratificam.

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