Rui Car
11/01/2017 14h54

Atacante lembra festa de dois dias de R10 que fez até segurança pedir arrego: ‘Tenho família’

Ronaldinho Gaúcho gostava de organizar festas que duravam dias

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Que Ronaldinho Gaúcho gosta de organizar festas de arromba não é segredo para ninguém. Quem já participou de algumas delas, aliás, diz que é preciso esbanjar disposição para aguentar o ritmo do meia nas celebrações, que podem durar dias.

 

É o caso do atacante Lukian, revelado pelo Nova Iguaçu-RJ e que atualmente defende o Busan I’Park, da Coreia do Sul. Pagodeiro desde a infância, ele deu a sorte de ir parar numa das famosas farras na mansão de R10, no Rio de Janeiro, e diz ter ficado impressionado.

 

“Todo jogador gosta de pagode, e eu tenho grande amizade com o pessoal (da banda) ‘Os Morenos’, com quem convivo desde garoto. Eu frequentava a casa dos caras e sempre ia na cola deles, tocando pandeiro e tantã com eles em pagodes fechados e shows na casa dos outros”, conta Lukian, em entrevista ao ESPN.com.br.

 

“Aí eles, que são muito amigos de jogadores de futebol, me levaram uma vez na casa do Ronaldinho Gaúcho, estava o (atacante) Jô também. Rapaz, boleiro quanto te chama pra um esquema não quer que você vá embora enquanto a festa não acabar. Foi uma loucura”, lembra.

 

Lukian, então, entrou para uma festa que pareceu interminável. Começou em uma pelada com Jô, que acabou por volta das 21h, com o então atacante do Manchester City comprando 40 lanches do McDonald’s para a galera. Em seguida, veio o convite de Jô para ir à sua casa, onde as festividades já haviam começado horas antes.

 

“Quando nós chegamos, ele ainda nem estava em casa, mas o lugar já estava lotado com os amigos dele (risos). Ficamos por lá e vimos que o pessoal estava se arrumando pra alguma coisa depois. Deu meia noite e acabou a bateria do meu celular, eu querendo ir embora. Quando estava quase indo, meia noite e pouco o Jô chamou todo mundo pra uma balada, porque ele tinha fechado um camarote dos bons”, relata o jogador.

 

BUDA MENDES/LATINCONTENT/GETTY IMAGES

Leo Gago Coritiba Ronaldinho Flamengo Campeonato Brasileiro 06/08/2011
Ronaldinho em ação pelo Flamengo
 

A turma, então, seguiu para uma casa noturna e ficou por lá até 5h da manhã. Quando parecia que a farra terminaria, eis que chega Ronaldinho Gaúcho, à época defendendo as cores do Flamengo, pronto para seguir a festa.

 

“Já estava raiando o sol quando o Ronaldinho chamou para irmos até a casa dele. Eu não queria ir, já estava morto, mas não tem como falar ‘não’ para o Gaúcho (risos). Ficamos uns 40 minutos na porta só esperando para sermos liberados, aí fiquei batendo um papo com o segurança para passar o tempo”, recorda Lukian, que ouviu uma súplica do profissional, já exausto de trabalhar.

 

“Ele estava um ‘caco’, virou pra mim e falou: ‘Vocês acham que eu estou aqui desde 22h de ontem? Que nada! Eu estou aqui faz dois dias e essa festa não acaba! Entra gente, sai gente, não termina nunca. Eu tenho família, rapaz, esse cara não cansa. Ele sai para treinar e a galera continua na festa, ele volta e a festa não termina. Esse cara não me libera, eu quero voltar pra casa, pelo amor de Deus'”, lembra, às gargalhadas.

 

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Lukian
Lukian em ação na Coreia do Sul
 

Lukian conta que ficou impressionado com a mansão de Ronaldinho e com a simplicidade do atleta, eleito duas vezes melhor do mundo pela Fifa. Ao dizer que havia lhe enfrentado em um Fla x Nova Iguaçu, ganhou uma aperto de mão do eterno camisa 10 e ouviu para se sentir em casa. Ficou tão à vontade que sua mãe achou que nunca mais fosse voltar para seu lar.

 

“Eu fiqui uns 20 minutos sem reação, só admirando a casa do cara (risos). Depois, quando voltei pra minha casa, minha mãe já tinha até chamado a polícia, pensando que eu tinha sumido, porque ela ficava me ligando e a bateria do meu celular tinha acabado ainda na festa do Jô, antes da do Ronaldinho”, diverte-se.

 

Foi com sua mãe, aliás, que Lukian viveu outra história ao lado de um jogador famoso. Depois de participar de uma pelada com Adriano “Imperador”, ele foi convidado para uma festa do atacante e ganhou uma lição de vida quando menos esperava.

 

“Chegamos na casa do ‘Imperador’ e minha mãe ficou babando nas coisas, parecia uma criança. Aí o Adriano viu, me chamou de canto e falou: ‘Tá vendo sua mãe ali, olhando tudo? Olha para a minha casa. Eu fiz tudo isso isso pela minha mãe. Tudo o que fiz na vida foi pela minha família. Faça isso pela sua mãe também'”, relembra.

 

“O Adriano também falava que não suportava que ficassem falando mal dele, mas que ele tinha consciência de que tinha dado tudo pela família. Ele me disse: ‘Muitos falam que eu vou me foder e ficar pobre de novo. Eu tenho minhas coisas, cara. Você acha que eu fiquei nove anos na Itália ganhando milhões e vou perder tudo assim? Você acha que sou burro de fazer minha família viver na pobreza outra vez? Nunca!'”, revela.

 

Lukian diz que jamais esqueceu as palavras do “Imperador”.

 

“Na época, eu estava meio deslumbrado, meio perdido, e resolvi mudar. Hoje, estou muito feliz e sossegado depois que casei, porque minha família está bem, todo mundo com saúde. Muito disso graças ao Adriano. Eu nem conhecia o cara e ele me levou pra conhecer todos os cômodos da casa dele, naquela humildade”, conta.

 

“Eu já era fã dele, depois disso fiquei ainda mais”, elogia.

 

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Lukian Busan IPark Coreia do Sul
Lukian joga no Busan I’Park, da Coreia

 

Atualmente jogando no futebol asiático depois de ser negociado pelo Luverdense, em 2015, Lukian já fez de tudo um pouco na vida. Durante a infância, ajudou seus pais trabalhando enquanto tentava a sorte no futebol.

 

“Eu comecei em escolinhas do Rio enquanto ajudava minha família trabalhando na feira. Joguei em alguns clubes de base e chamei a atenção um dia num jogo contra o Nova Iguaçu, aí eles me levaram para lá. Fui para o time em 2007 e ganhava uma ajuda de custo de R$ 60”, conta.

 

Fã de televisão, o atacante também tirava um troco fazendo figuração em novelas.

 

“Fiz muita figuração na adolescência. A principal foi na novela ‘Caras e Bocas’, da Globo. Eu era o cara que ficava no hotel pegando as malas do Henri Castelli. Sempre curti TV, vivia mandando e-mail para as agências para fazer uns bicos”, lembra o jogador.

 

Lukian revela, aliás, que a vida de figurante não é tão fácil quanto parece.

 

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Lukian Busan IPark Coreia do Sul
Lukian disputa jogada pelo Busan I’Park
 
 

“Às vezes era complicado… Teve um dia que ficamos sei lá quantas horas lá direto, achei muita exploração e acabei desistindo. Mas sempre gostei de televisão, porque meu pai trabalhou muitos anos na Globomontando cenários. Ficou mais de 10 anos lá e era muito querido pelo pessoal”, relata.

 

Lukian começou a embalar no Nova Iguaçu em 2010, quando fez dupla de ataque com William Barbio (ex-Vasco, Bahia, Chapecoense e outros times) e ajudou a equipe a chegar à elite do futebol carioca. No ano seguinte, enfrentou Ronaldinho, então no Flamengo, e viveu a glória de jogar um grande Estadual.

 

Em 2013, foi para o Rio Branco-SP, time no qual fez amizade com o atacante Sandro Hiroshi (aquele mesmo ex-São Paulo), que lhe deu a dica para se arriscar no futebol coreano. A princípio, não quis, mas depois de quebrar a clavícula em uma pelada com amigos em Nova Iguaçu e pensar até em parar com o futebol, resolveu arriscar.

 

“Depois que eu saí do Luverdense, pensava que estava ferrado, sem contrato e que não ia achar nem lugar para trabalhar. Estava parado, só jogando pelada e fazendo academia, quando um dia, do nada, depois de dois anos sem falar comigo, o Sandro Hiroshi me ligou. Perguntou se eu estava sem time, eu disse que sim e ele me passou a opção de um contrato de risco de seis meses na Coreia do Sul. Aceitei na hora”, conta.

 

O brasileiro chegou para jogar no Bucheon 1995, e agradou tanto que instantaneamente teve o contrato renovado. No ano seguinte, viveu ótima temporada, fazendo 15 gols em 39 jogos, e foi negociado com o Busan I’Park na última janela de transferências. Agora, o ex-figurante vive feliz da vida no futebol coreano.

 

“Quando cheguei, achei que o time fosse ser muito ruim, mas a estrutura era ótima e duas semanas depois já fiz minha estreia. Deu certo, caí na graça do pessoal por aqui. Fiz muitos gols e agora estou curtindo muito estar aqui”, finaliza Lukian.

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