Rui Car
14/01/2020 10h45 - Atualizado em 14/01/2020 08h44

Os segredos de um cérebro humano de 2.600 anos bem preservado

Tecido cerebral: a surpresa

Assistência Familiar Alto Vale
HypeScience

HypeScience

Delta Ativa

Pesquisadores do York Archaeological Trust descobriram o mais antigo cérebro britânico: com 2.600 anos, pertencia a um homem da Idade do Ferro que provavelmente morreu com um golpe na cabeça e depois foi decapitado.

 

Tecido cerebral: a surpresa

A cabeça foi encontrada durante uma escavação no sítio arqueológico da Idade do Ferro Heslington, em 2008.

 

O crânio estava voltado para baixo em um solo rico em argila. Quando os cientistas recuperaram a cabeça, notaram um tecido esponjoso amarelado dentro dela e ficaram muito surpresos.

 

Eles cortaram o crânio e analisaram a matéria, confirmando que se tratava de tecido cerebral incrivelmente bem preservado, datado entre 482 e 673 aC, no começo da Idade do Ferro.

 

 

O tempo normalmente não faz bem para cérebros humanos. A menos que eles sejam intencionalmente preservados, costumam ser degradados imediatamente após a morte por enzimas que quebram seu tecido. Como são 80% compostos de água, esse processo é rápido.

 

Então como este sobreviveu por tanto tempo?!

 

Preservação

Foi o pesquisador Axel Petzold, da Universidade College London, quem liderou a análise do cérebro. Ele é especialista em estruturas como neurofilamentos e a proteína ácida fibrilar glial (GFAP, na sigla em inglês) que mantêm a matéria cerebral no lugar.

 

Petzold e seus colegas notaram que dois filamentos ainda estavam presentes no cérebro antigo mesmo depois de milênios. Isso provavelmente significa que proteínas apoiaram sua preservação. “As proteínas são muito estáveis ao longo do tempo se armazenadas de uma maneira específica”, disse Petzold.

 

Normalmente, tais proteínas estariam mais presentes na área interna do cérebro, ou na substância branca. No caso do cérebro de Heslington, no entanto, estavam concentradas em áreas externas, ou na substância cinzenta.

 

Talvez o processo de degradação tenha sido impedido de fora para dentro do cérebro, e essencialmente “desativado”. Em seguida, as proteínas se “dobraram” e se juntaram para ajudar a preservá-lo. Comparado com a estrutura cerebral normal, o cérebro de Heslington parecia “encolhido e compacto”, segundo os cientistas.

 

 

Ácido

Durante o estudo, os pesquisadores não encontraram nenhuma evidência da utilização de técnicas de preservação artificiais.

 

Apesar disso, eles acreditam que algum tipo de fluido ácido pode ter penetrado o tecido cerebral e impedido as enzimas de degradá-lo. Não está claro se esse fluido teve algum papel na morte do homem, contudo.

 

Proteínas

A nova descoberta poderia desempenhar um papel nas pesquisas atuais sobre proteínas e no campo biomédico. “Um cérebro contemporâneo apenas se dissolve, mas o cérebro de Heslington continuou a revelar mais e mais proteínas”, explicou Petzold.

Isso poderia ter implicações no estudo de doenças neurodegenerativas como Alzheimer e demência, que envolvem o dobramento prejudicial de proteínas. No caso de Heslington, o dobramento das proteínas ajudou a impedir a degradação do tecido.

 

Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista científica Journal of the Royal Society Interface. [CNN]

Justen Celulares