Rui Car
20/01/2017 11h37 - Atualizado em 20/01/2017 08h48

O que eu aprendi depois de passar seis meses sem álcool

As pessoas não entenderam

Assistência Familiar Alto Vale
Yahoo

Yahoo

Delta Ativa

No ano passado, larguei o álcool por seis meses. Eu fiquei preocupada ao notar que nunca me conheci como uma adulta que não bebia; eu havia ficado no máximo uma ou duas semanas sem álcool. Comecei a trabalhar em restaurantes aos 18 anos, abracei a cultura que promove a bebida na faculdade, e depois comecei a me sentar na frente da televisão com uma taça de vinho tinto. Coisas “normais”. Abusei do álcool em alguns momentos; um término de namoro doloroso e uma crise ao completar vinte e cinco anos fizeram com que eu usasse o vinho como uma muleta, mas eu não sentia que meus hábitos eram algo fora do comum quando me comparava aos meus amigos e conhecidos.

 

Eu queria que 2016 fosse um ano produtivo e suspeitava de que a bebida estava prejudicando o meu bem-estar e, consequentemente, a minha habilidade de fazer as coisas. No final de 2015, motivada pela melancolia que costuma surgir após o Natal, decidi me afastar do álcool. Com a minha abstinência vieram os benefícios óbvios – o fim das ressacas, mais dinheiro – mas também houveram resultados surpreendentes e inesperados.

 

As pessoas não entenderam

As pessoas não entendem, logo de cara, quando você decide parar de beber; elas suspeitam de que algo pode estar acontecendo. Eu sei porque já fui este tipo de pessoa, então não contei a ninguém que estava largando o álcool. Eu queria fazer isso silenciosamente, sem alarde, por mim mesma. Na maioria das vezes ninguém notava o que estava acontecendo, pois eu bebia água com gás com uma rodela de limão, que foi muito confundida com um gim-tônica. No entanto, na hora de fazer o pedido na frente de todos e escolher algo sem álcool, notei que foi preciso dar algumas explicações. Meus amigos precisavam saber por que eu estava fazendo aquilo, e depois que eu explicava meus motivos, eles ainda tentavam me fazer desistir do propósito. Não houve uma única pessoa que aceitou minhas escolhas sem questionamentos.

 

Ir a festas ainda é divertido

Apesar de não beber, eu ainda saía bastante à noite e tive experiências tão divertidas quanto as que envolviam o álcool – ou até mais. Antes eu ficava cansada depois de alguns drinques e queria a minha cama, mas agora eu tinha energia para continuar, sendo quase sempre a que mais dançava e ficava até mais tarde. A melhor parte de sair à noite sóbria é não ter arrependimentos. Não há conversas bêbadas embaraçosas ou promessas impossíveis de cumprir. Acordar no dia seguinte é maravilhoso, assim como as semanas, meses e anos seguintes sem lembranças desnecessárias.

 

Foi mais fácil lidar com a minha ansiedade

Durante quase toda a minha vida adulta, sofri de ansiedade. Convivi com uma antagonista interna que sabotava diariamente meus esforços, tentando me colocar para baixo, dizendo que eu não era digna de ser amada ou de ter coisas boas. Eu sabia que o álcool exacerbava este comportamento e ele sempre era mais intenso após uma noite de bebedeira, mas eu não achava que duas taças de vinho durante a semana fariam muita diferença. Eu estava muito errada. No minuto em que parei de beber, minha saúde mental melhorou. É claro que a ansiedade ainda está lá – ela é parte de quem eu sou – mas a sensação de que uma tragédia estava sempre prestes a acontecer quase não existe mais. Sou capaz de desafiar meus pensamentos negativos e manter as coisas em perspectiva.

 

Eu me tornei mais legal

Com a ansiedade controlada, descobri que tinha mais energia para ser legal com as pessoas. Passei a me preocupar menos com as coisas que não posso controlar. Fiquei mais gentil comigo mesma; se eu não conseguisse terminar minha lista de coisas para fazer naquele dia, eu não me criticava por isso. Meu namorado notou uma grande mudança no meu comportamento. Acho que como eu passei a não me odiar tanto, era mais agradável estar perto de mim.

 

As coisas me incomodaram menos

Eu acredito que isso vem do fato de eu estar mais descansada e com uma mentalidade mais positiva, mas a verdade é que as coisas passaram a me incomodar menos. Eu tive muito mais paciência com os que estavam ao meu redor. Se um motorista folgado gritasse comigo ou tentasse me atropelar, enquanto eu estava andando de bicicleta, em vez de ficar irritada, eu lidava com a situação usando o bom humor.

 

Meu desejo de comer açúcar sumiu

Eu sou uma formiguinha, e sempre tenho algo doce em casa ou na minha bolsa. Quando parei de beber, notei instantaneamente que minha vontade de comer açúcar despencou. Eu não como mais doces todos os dias.

 

Meu melasma diminuiu

Não sei explicar por que isso aconteceu. Talvez tenham sido os níveis reduzidos de estresse ou a ingestão menor de açúcar, mas as manchas escuras decorrentes do melasma em meu rosto ficaram significativamente menos visíveis. Um bônus enorme e inesperado.

 

Minhas linhas de expressão se atenuaram

Eu estava começando a me estressar por causa do surgimento de algumas linhas de expressão no meu rosto, mas depois de largar o álcool (e possivelmente o açúcar), elas se atenuaram drasticamente.

 

Eu tive menos dores de cabeça

Eu já estava conformada em ser uma pessoa que sentia dores de cabeça regularmente. Não aquelas dores intensas que surgem quando estamos de ressaca; simplesmente dores de cabeça normais. Eu comprava remédios para aliviá-las todas as semanas, mas elas praticamente desapareceram, assim que parei de beber.

 

Eu me senti mais presente

Passei a me preocupar menos e aproveitar mais a vida. Quando as coisas não aconteceram da maneira como eu esperava, consegui pensar nas minhas bênçãos e ser grata por elas.

 

Eu fiz mais coisas

Como eu suspeitava, a minha produtividade aumentou. Senti mais prazer no meu trabalho, defini metas para mim mesma gerenciando minhas expectativas, e não me critiquei quando as coisas não ocorreram conforme o planejado.

 

Eu me arrisquei mais

Saí da minha zona de conforto e desafiei a mim mesma, artisticamente. Eu me matriculei em cursos novos. Eu disse “sim” mais vezes. Reservei uma viagem de férias para a Austrália. Escrevi duas peças de teatro. Uma delas era terrível. A vida é assim: tenho certeza de que mais trabalhos ruins virão, mas outros excelentes também surgirão. A vida é curta, então é preciso aproveitá-la. No geral, os efeitos foram tão positivos que decidi não beber durante todo o ano de 2017. Eu não estou dizendo que você deve fazer o mesmo, mas decidi que estou melhor sem o álcool. Quem sabe… talvez eu nunca mais beba novamente.

 

Jasmine Jones
Yahoo Style UK

Justen Celulares