Rui Car
09/09/2019 10h45 - Atualizado em 09/09/2019 08h48

Nos EUA, condição ligada a cigarros eletrônicos se torna uma “epidemia”

A moda é conhecida em inglês como “vaping

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HypeScience

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Os EUA estão vendo uma série de casos de doença horríveis ligados a cigarros eletrônicos. De acordo com a Dra. Melodi Pirzada, pneumologista do Hospital NYU Winthrop (Universidade de Nova York, EUA), somente no último verão americano, profissionais de saúde trataram mais de 215 pacientes com condições misteriosas de pulmão oferecendo risco de fatalidade relacionadas ao fumo nesses objetos.

 

O surto está “se tornando uma epidemia. Algo está muito errado”, disse a médica ao The New York Times.

 

A epidemia americana

Os pacientes – normalmente jovens na casa dos 20 anos – costumam chegar ao pronto-socorro com muita falta de ar, vômito, febre e fadiga, por vezes apresentando os sintomas há dias. Alguns vão parar na UTI (unidade de tratamento intensivo).

 

A parte mais complicada, no entanto, é que eles não assumem o que vêm utilizando. Os médicos sabem que têm a ver com cigarros eletrônicos (e muitas vezes os jovens fumam maconha neles), mas a maioria nega ter inalado qualquer coisa.

 

Por conta do número de pacientes com sintomas semelhantes ligados a cigarros eletrônicos, o governo americano está agora investigando a situação para tentar determinar qual a causa da condição – por exemplo, se está relacionada a alguma toxina ou substância do próprio produto, se as pessoas têm reutilizado cartuchos contendo contaminantes ou se o risco decorre de um comportamento mais geral, como o uso intenso de cigarros eletrônicos.

 

Cigarros eletrônicos

A moda, conhecida em inglês como “vaping”, introduziu uma mudança generalizada na maneira como as pessoas consomem nicotina e maconha, inalando ingredientes vaporizados.

 

No Brasil, mês passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária pôs em discussão a regulamentação dos cigarros eletrônicos, pois, apesar de serem ilegais no país, são amplamente anunciados e vendidos. Segundo o portal G1, “vários tipos de cigarros eletrônicos importados podem ser comprados pela internet ou no comércio do centro de São Paulo”. O consumo tem crescido na nação e preocupado médicos.

 

 

Ainda ao G1, o Dr. Drauzio Varella teria dito que o Brasil – que atualmente tem menos de 10% de fumantes, um índice inferior ao da maioria dos países – corre o risco de regredir se acabar liberando os cigarros eletrônicos, pela sedução que eles exercem nos mais jovens. “Isso tudo é preparado para viciar as crianças, tanto que tem sabores: tem sabor de maçã, sabor de chocolate, sabor de frutas. Vários deles têm formato em pen-drive. Por que em pen-drive? Porque é a linguagem das crianças”, alertou ao portal.

 

Qual a fonte do problema?

Muitas vezes, cigarros eletrônicos são considerados menos prejudiciais que cigarros tradicionais, que liberam milhares de produtos químicos na combustão do tabaco, diversos deles cancerígenos, nos pulmões.

 

Mas os eletrônicos têm seus próprios problemas: a nicotina ou o THC (a substância ativa da maconha) podem acabar misturados com solventes ou óleos que os aquecem para torná-los vapor. A inalação de possíveis resíduos pode causar problemas respiratórios e inflamação nos pulmões.

 

Nos exames médicos realizados nos pulmões de alguns pacientes, pareceu inicialmente que eles possuíam um tipo de pneumonia viral ou bacteriana grave. Porém, testes adicionais não mostraram infecção.

 

“Realizamos todos esses testes em busca de bactérias e vírus e tivemos resultados negativos”, disse o Dr. Dixie Harris, pneumologista de tratamento intensivo em Salt Lake City (EUA), que consultou quatro desses pacientes e analisou os casos de outros nove no estado de Utah.

 

De acordo com Scott Gottlieb, ex-funcionário da Administração de Drogas e Alimentos dos EUA, os casos podem ter ligação com produtos ilícitos. “Provavelmente é algo novo que foi introduzido no mercado por um fabricante ilegal, seja um novo sabor ou uma nova maneira de emulsionar o THC que está causando esses ferimentos”, sugeriu.

 

A questão dos óleos

Muitos dos ingredientes que vão nos cigarros eletrônicos não são listados nos produtos. Por exemplo, óleo de vitamina E parece ser uma das substâncias associadas com os problemas respiratórios graves de alguns dos casos da epidemia de Nova York. Às vezes, a vitamina E é divulgada como um suplemento no óleo de canabidiol (substância química da maconha), mas que não é adequado para uso em cigarros eletrônicos.

 

“A inalação de óleo nos pulmões é um comportamento extremamente perigoso que pode resultar em morte”, esclareceu Thomas Eissenberg, que estuda cigarros eletrônicos na Universidade Virginia Commonwealth (Austrália).

 

Sete casos de lesões pulmonares vistos por Eissenberg continham um ingrediente comum: a glicerina vegetal, feita a partir de óleo vegetal. “Se houver algum processo incompleto, pode haver óleo na glicerina vegetal quando a pessoa estiver usando, e inalar óleo e colocar óleo nos pulmões é o que está causando algumas das lesões pulmonares que vemos”, propôs.

 

“Basicamente, o que a Administração de Drogas e Alimentos deveria estar fazendo é testar cada um desses líquidos para ver se eles têm algum óleo e fazer uma regulamentação que proíba o óleo em qualquer um desses produtos, seja um produto de THC ou de nicotina”, concluiu.

 

Afora as condições graves que estamos vendo nos EUA, há ainda a questão de que o impacto final de anos utilizando cigarros eletrônicos simplesmente não é conhecido, de forma que os especialistas creem que órgãos governamentais de saúde deveriam estudar mais esses produtos e provavelmente tentar diminuir a sua comercialização. [NYTimesG1]

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