Rui Car
10/12/2019 09h55 - Atualizado em 10/12/2019 08h29

Mamãe Noel: costureira de 67 anos reforma bonecas velhas para dar a crianças carentes

Ela transforma itens encontrados no lixo em brinquedos novos para crianças carentes

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Francisca Monteiro Alves sempre sonhou em ganhar uma boneca na sua infância, mas o Natal de sua família nunca teve presentes, ceia repleta ou comemorações. “Éramos muito pobres e, em alguns anos, não tínhamos nem mesmo o que comer”, recorda a moradora de Cariacica, no Espírito Santo. “Aí eu e meus irmãos saíamos em direção ao córrego para tentar pegar algum peixinho e colocar na mesa. Era assim nosso fim de ano”.

 

No entanto, ela lembra da alegria que sentia quando brincava com os presentes recebidos por suas vizinhas e guarda na memória a emoção do dia em que ganhou sua primeira e única boneca, aos dez anos de idade. “Ela era pesada, toda rosa e foi minha avó que me deu pouco antes de eu começar a trabalhar como babá”, conta a aposentada de 67 anos, que aprendeu a costurar ainda jovem e hoje usa suas habilidades com linha e tecido para presentear centenas de crianças carentes.

 

Segundo a aposentada, o salário mínimo que recebe mensalmente não possibilita a compra de brinquedos novos para distribuir. Por isso, começou a reformar diversas bonecas velhas, quebradas e sujas que encontrava jogadas no lixo. “Eu as lavo muito bem com escovinha e palito de dente, tiro todos os riscos de caneta e canetinha, e tento recuperar o cabelo com muito amaciante e água morna”, conta Chiquinha – como é chamada carinhosamente na região.

 

Arquivo pessoal/Fernanda Monteiro Taufner
Arquivo pessoal/Fernanda Monteiro Taufner

Além disso, ela senta por horas na máquina de costura para criar vestidos novos, sapatinhos e tiaras coloridas que completam as produções. “E quando o cabelo não tem mais jeito mesmo, eu corto e faço algum chapéu ou turbante, que agora está em alta”, comenta dona Francisca, que começou a ação no Natal de 2016 depois de uma amiga distribuir brinquedos usados para crianças do município e lhe contar a experiência.

 

“Ela disse que os pequenos tinham ficado muito felizes com aqueles presentes”, relata. “Então, lembrei como eram as coisas na minha infância e decidi procurar bonecas velhas para reformar com bastante cuidado e doar também”.

 

“Lembrei como eram as coisas na minha infância e decidi procurar bonecas velhas para reformar com bastante cuidado e doar também”.

 

Em sua primeira ação, Chiquinha conseguiu transformar 16 brinquedos. Já em 2017, o número subiu para 43 e chegou a 101 no ano passado. Só que a ideia se tornou tão conhecida na região que suas vizinhas e colegas também começaram a colaborar com a doação de tecidos, fios, produtos de limpeza e outros itens que a “Mamãe Noel” de Cariacica pudesse usar na “fantástica fábrica de brinquedos”.

 

Foto: Arquivo pessoal/Fernanda Monteiro Taufner
Dona Francisca fica muito feliz com o resultado do trabalho. Foto: Arquivo pessoal/Fernanda Monteiro Taufner

Assim, a mineira natural de Aimorés – às margens do Rio Doce, em Minas Gerais – dobrou a produção este ano, concluindo a reforma de mais de 200 bonecas para entrega em uma grande festa no próximo dia 21 de dezembro. “Tenho até dificuldade para acreditar, porque essas bonequinhas chegaram em condições péssimas e agora vão alegrar centenas de crianças”.

 

Ao todo, os presentes ajudarão três projetos da cidade e mais da metade deles será enviado a famílias do bairro Novo Horizonte, atingido por uma grave enchente nas últimas semanas.“Inclusive, já entreguei as bonecas aos voluntários que estão organizando a distribuição e estou muito feliz por trazer um motivo para esses pequenos sorrirem depois de tanto sofrimento que passaram”.

 

Foto: Arquivo pessoal/Fernanda Monteiro Taufner
Arquivo pessoal/Fernanda Monteiro Taufner

Trabalho que emociona

Entre os voluntários que auxiliam na arrecadação e distribuição dos itens está a assistente financeira Fernanda Monteiro Taufner, filha de dona Francisca. Segundo ela, o trabalho da mãe emociona quem entra em contato com o projeto e, aos poucos, tem incentivado mais pessoas a participar.

 

“É lindo ver o que ela faz, porque é com muito amor e dedicação”, garante a capixaba de 42 anos, que já acostumou a encontrar a mãe lavando bonecas e costurando roupinhas durante o dia, à noite a aos finais de semana. “Esse é um trabalho maravilhoso, então nosso desejo é que ele cresça nos próximos anos e que outras pessoas colaborem também”.

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