Rui Car
24/06/2017 10h45 - Atualizado em 24/06/2017 08h31

Casamento não deveria ser “para os fortes”

Passam a vida se arrastando até que a morte os separe

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Basta avisar que o endereço do (a) namorado (a) agora é também o seu – com ou sem papel assinado e benção religiosa. Os amigos propõem um brinde na mesa do bar: “Ao seu GAME OVER!”. Aquela tia com aliança há 30 anos no dedo parabeniza a decisão, pergunta da festa (mesmo que não queiram uma) e gaba com pesar: “Casamento é para os fortes! ”. Relações amorosas se desenvolvem de acordo com o que desejamos, esperamos, fazemos e aceitamos delas.

 

Casamento é cruz de ferro pra quem acredita no fim da individualidade. A partir de então, definitivamente, dois viram um só. Siameses. Aonde você for, eu vou. As mensagens que você recebe eu também leio. Não tem cabimento mulher casada frequentar happy hour. Marido meu não joga futebol depois do trabalho. Se você me ama, tenho direito de saber o que estava falando com a sua irmã. Não vai comprar esse vestido porque não gostei dele.

 

Casamento é bigorna pra quem acredita na obrigação de aturar. As patadas diárias, o autoritarismo, a falta de consideração. Vou fazer o quê se já pedi mil vezes pra me ajudar com as coisas da casa? Não adianta, ela odeia os filhos que tive com a minha ex-mulher. Ele vive jogando minha autoestima lá embaixo. Pra quê me desgastar mais com essa história de gastar nosso dinheiro com futilidades?

 

Casamento é tonelada pra quem acredita no felizes-para-sempre. Compartilhar cama, mesa, banho, planos, decisões e despesas… às vezes questionam a sua vontade de ficar. Quanto mais fantasiosas as expectativas, maiores as frustrações. Não case pra ter uma casinha. Não case pra não ficar sozinha. Não case pra melhorar um namoro. Não case se você aposta que a paixão dará conta da rotina. Não case porque os outros esperam que você faça isso.

 

Casamento é “para os fortes” quando aceitam carregar o peso da infelicidade nos ombros. Passam a vida se arrastando até que a morte os separe. Não precisa – nem deveria – ser assim. Casamento é para os artesãos. Lúcidos, sabem da dificuldade de mexer em argila molhada. Parceiros, se dispõem a moldar juntos um vaso (e a si mesmos) por dia. Atentos e cuidadosos. Aperta aqui, alarga dali, gira, gira, gira. Alguns saem imperfeitos e eles pensam em desistir. Mas decidem recomeçar amanhã porque outros TANTOS têm ficado lindos.

 

*Nathalia Ziemkiewicz, autora desta coluna, é jornalista pós-graduada em educação sexual e idealizadora do blog Pimentaria.

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