Rui Car
18/06/2019 17h00 - Atualizado em 18/06/2019 14h48

Cachorros evoluíram um músculo especial só para manipular seus sentimentos

Os cães fazem essa expressão com mais frequência e de maneira mais intensa que os lobos

Assistência Familiar Alto Vale
HypeScience

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Sabe quando seu cão te dá aquele “olhar de coitadinho”, exigindo sua atenção ou pedindo comida? Foi a evolução que o ajudou a ganhar músculos especiais ao redor dos olhos exatamente para manipular seus sentimentos.

 

Uma equipe de psicólogos evolucionistas e anatomistas do Reino Unido e dos EUA descobriu que os cães desenvolveram essa expressão que apela particularmente a seres humanos ao longo do tempo.

 

Os cães fazem essa expressão com mais frequência e de maneira mais intensa que os lobos. Isso porque evoluíram um músculo específico, chamado “levator anguli oculi medialis”, que os ajuda a levantar as sobrancelhas.

 

A expressão de “coitadinho” aparentemente estimula uma “resposta nutridora” por parte das pessoas em relação aos cães, e pode ter ajudado os animais domesticados a se relacionarem com os humanos.

 

O apelo

Estudos anteriores mostraram como essas expressões caninas podem atrair os seres humanos, mas esta pesquisa sugere que houve uma mudança anatômica em torno dos olhos dos cães para torná-la possível.

 

“Quando os cães fazem o movimento, parece provocar um forte desejo nos seres humanos de cuidar deles”, explica uma das autoras do estudo, a Dra. Juliane Kaminski, da Universidade de Portsmouth (Reino Unido).

 

Esse movimento muscular permite que os olhos dos cães “pareçam maiores, mais infantis e também se assemelhem a um movimento que os humanos produzem quando estão tristes”.

 

Kaminski afirma que os humanos teriam uma “preferência inconsciente” para proteger e procriar cães com essa característica, dando-lhes uma vantagem evolutiva e reforçando essa alteração muscular nas gerações subsequentes.

 

 

“A evidência é convincente de que os cães desenvolveram um músculo para levantar a sobrancelha interna depois de serem domesticados a partir de lobos”, resume a pesquisadora.

 

Metodologia

Anne Burrows, anatomista da Universidade Duquesne em Pittsburgh (EUA), trabalha ao lado de Kaminski há anos examinando as expressões faciais e a musculatura de animais domésticos.

 

Elas começaram com cavalos e gatos. Segundo Burrows, cavalos têm movimentos faciais semelhantes aos dos cães, mas os gatos não.

 

No estudo mais recente, a equipe testou o comportamento de cães e lobos ao filmar suas reações. Como esperado, os cães levantaram as sobrancelhas com mais frequência e intensidade do que os lobos. Mesmo que os lobos não tenham o músculo específico mencionado acima, eles têm muitos outros para poderem fazer um olhar semelhante.

 

Depois, as pesquisadoras dissecaram as cabeças de quatro lobos e seis cães, todos adquiridos uma vez que já estavam mortos, e, como era de se esperar de animais tão intimamente relacionados, toda a musculatura era exatamente igual exceto pelo músculo levator, que nenhum dos lobos tinha. Um outro músculo, que variava nos lobos e cães, também estava relacionado ao movimento dos olhos.

 

 

Interação humana

As cientistas acreditam que os seres humanos tenham favorecido inconscientemente cães que levantam sobrancelhas através de uma procriação seletiva bastante recente.

 

Pesquisas anteriores já mostraram que os cães são mais propensos a usar essa expressão quando um ser humano está olhando para eles – sugerindo que é um comportamento deliberado e destinado a nós.

 

Em outras palavras, as mudanças evolutivas nos músculos faciais dos cães poderiam estar “diretamente ligadas à interação social melhorada dos cães com os humanos”, afirma Burrows.

 

O próximo passo da pesquisa é olhar para mais raças para ver se o comportamento e a musculatura variam. Talvez os cães criados para trabalhar de perto com os humanos tenham maior probabilidade de exibir as sobrancelhas levantadas, que parecem indicar que o animal está prestando atenção.

 

Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista científica Proceedings of National Academy of Sciences. [BBCNYTimes]

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