Rui Car
17/07/2019 14h40 - Atualizado em 17/07/2019 14h25

Polícia descobre que homem preso várias vezes por roubos em SC usava três identidades diferentes

Uruguaio agia em todo o estado

Assistência Familiar Alto Vale
G1 SC

G1 SC

Delta Ativa

A polícia descobre que homem preso vários vezes por praticar roubos em apartamentos em cidades de Santa Catarina usava três identidades diferentes. O caso foi descoberto quando a polícia confrontou três documentos com a mesma foto, mas com nomes diferentes. Em todas as vezes ele foi solto.

 

O suspeito dos crimes é um uruguaio, que responde a processos e tem mandados de prisão no Brasil e no Uruguai. Há quatro anos, ele tem sido alvo de várias investigações, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF-SC). “Ele é um profissional do crime”, disse Luiz Graziano, chefe da PRF-SC.

 

Após a descoberta dos três documentos usados pela mesma pessoa, a polícia já sabe a verdadeira identidade do uruguaio: Washington Wetherall Alvez. A defesa dele nega os crimes.

 

Primeira prisão

A história do homem em Santa Catarina começou em 2015, ao ser preso numa operação conjunta da PRF-SC e da Policia Militar, na BR-101, em Palhoça, na Grande Florianópolis. Os policiais já estavam em busca de um uruguaio que trabalhava com outras pessoas que assaltavam apartamentos.

 

“A gente acredita que eles já tenham subtraído R$ 1 milhão só em Santa Catarina”, falou o delegado Rodrigo Mayer.

 

O homem já estava sendo procurado, mas a identidade dele não era conhecida. Foi preso com vários objetos furtados dentro do veículo. Na casa dele, em Florianópolis, mais produtos furtados.

 

Na época, o uruguaio foi identificado como Pablo Marcelo Piazente Sas. O nome estava na carteira de motorista apresentada por ele. Mas pagou fiança e foi solto. De volta às ruas, continuou cometendo crimes em várias cidades do estado, conforme o delegado Rodrigo.

 

“Furto em Araranguá, em Jaraguá, em Porto Belo, em Balneário Camboriú, em Santo Amaro da Imperatriz”, disse.

 

Há também registros em Palhoça e São José. São pelo menos oito processos na Justiça catarinense e dois mandados de prisão contra Pablo por furtos. Quem pediu uma das prisões foi a Polícia Civil em Santo Amaro da Imperatriz.

 

“Em Santo Amaro, foram pelo menos cinco furtos consumados e dois tentados”, contou o delegado.

 

Um vídeo mostra Pablo agindo num edifício da cidade. Ele entra logo atrás de um morador, sempre de mochila para carregar o que furtava. No elevador conversa com a moradora como se fosse de casa.

 

“Ele é muito bom de conversa, porque ele entra nos edifícios, descobre os apartamentos que estão vazios, e com habilidade dele de adentar o apartamento, infelizmente, ele causa grandes estragos”, disse Graziano.

 

Um dos apartamentos invadidos na cidade foi da manicure Luciana da Silva. “Eles invadiram o meu e o de cima. Ele abriu meu guarda roupa, ele abriu até gaveta de peça íntima. Ai você vê que a pessoa revirou o seu apartamento todo. Levaram folhados a ouro, prata, estojo de maquiagem, perfume, um celular. Acho que o que foi mais forte pra mim foi a sensação de impunidade. Mexeu na minha intimidade, nas minhas coisas. A pessoa consegue entrar na sua casa e botar a mão em tudo. Fica uma sensação muito ruim”.

 

Mas teve gente com prejuízo ainda maior. “Só no último furto foram R$ 65 mil”.

 

Até apartamentos de policiais foram invadidos e armas levadas. “A gente estima que R$ 200 mil foram levados só em Santo Amaro da Imperatriz”, contou o delegado.

 

Segunda prisão

Em 2016, Pablo acabou preso de novo em flagrante pela PRF-SC na BR-101, em Biguaçu, junto com outro uruguaio. “Ele nunca está sozinho, se utiliza inclusive de mulheres para dar credibilidade à ação dele”, falou Graziano.

 

Já o delegado fala em organização criminosa. “A gente acredita que ele seja o líder da organização criminosa, que planeja os crimes”.

 

Mais uma vez apresentou uma carteira de motorista do Uruguai, mas em nome de outra pessoa: Sebastian Gonzales Ferreira. Na mochila, grampos de cabelo e pó de grafite usados para abrir portas. Ele foi encaminhado para a delegacia, mas acabou solto novamente e seguiu invadindo apartamentos.

 

Em outro vídeo divulgado pela polícia dá para ver o homem tentando abrir a porta de um condomínio em Palhoça, em março deste ano. Ele não consegue e aí um comparsa pula o muro e abre por dentro.

 

Já na porta interna, o uruguaio tentou abrir na força. Também não conseguiu e entrou por uma janela e abriu por dentro.

 

A dupla tentou invadir todos os apartamentos, mas só conseguiu entrar em dois. Um deles, o do cirurgião dentista Miguel Nora que teve prejuízos. “Aproximadamente, R$ 2,5 mil”.

 

As paredes ainda têm marcas do pó de grafite usado pelos ladrões para lubrificar a fechadura. “Mudou completamente desde que eu já tirei a minha TV daqui. Então, já não assisto mais TV, que fazia parte da minha rotina. Mudei as partes das portas, as trancas são todas para que não aconteça de novo”, disse.

 

Em outro trecho o vídeo mostra Pablo e um comparsa entrando num condomínio em Jaraguá do Sul, no mês passado. Eles chegam com a mochila vazia e uma hora depois, saem com ela cheia.

 

Terceira prisão

De novo acabaram presos em flagrante na BR-101, com dezenas de produtos furtados. O homem apresentou um documento uruguaio com um terceiro nome: Washington Wetherall Alvez.

 

Foi com essa informação que a PRF-SC fez a descoberta. “Nós fizemos umas diligências junto à polícia uruguaia e, para nossa surpresa, esse último documento que ele apresentou é o verdadeiro. O nome desse uruguaio é Washington”, revelou Graziano.

 

Processos

Ele tem nove processos criminais no Uruguai e dois mandados de prisão. No Brasil, ele tem oito processos judiciais e mais dois mandados de prisão. Ou seja, desde 2015 correm na justiça catarinense processos e pedidos de prisão em nome de uma pessoa que não existe, o que deixa os processos praticamente parados, disse a juíza auxiliar da presidência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), Carolina Fretta.

 

“Provavelmente porque nesses processos que ele já responde aqui, não houve a identificação de uso de documento falso. Então, não houve uma investigação nesse sentido, uma desconfiança. Então, faz essa correção, um eventual atraso por conta disso, e o processo segue normalmente. Se tinha mandado de prisão, esse mandado vai ser recolhido para que não seja presa outra pessoa que não ele, pra correção do nome”.

 

O advogado Marcos Paulo Silva dos Santos de Washington nega os crimes. “Em todos os processos, o Washington nega a prática desses furtos. Importante dizer que em nenhum desses processos ele se manifestou como Pablo”.

 

Crítica

Especialista em direito penal, o professor Sandro Sell vê falhas no processo. “Sem dúvida, que houve uma falha no procedimento. A partir do momento que não foi desconfiada a identidade na base adequada, que seria a uruguaia, a autenticidade daquele documento, os outros processos partiram da ideia de que isso já tinha sido feito no primeiro. E foi continuando e iria continuar assim se não fosse a descoberta. Poderia ser um homicídio, poderia ser um grande tráfico, então o que chama a atenção é ausência de procedimento padronizados pra evitar que isso aconteça”.

Justen Celulares