Rui Car
25/03/2017 08h00 - Atualizado em 24/03/2017 18h01

Governo confirma que trabalho escravo foi registrado no Alto Vale

SC registrou trabalho análogo à escravidão em cinco locais nos últimos anos, diz governo federal

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Diário Catarinense

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Após longa espera, foi divulgada na noite desta quinta-feira pelo Ministério do Trabalho a aguardada “lista suja” das empresas envolvidas em trabalho análogo à escravidão. Dos 68 nomes, cinco ficam em Santa Catarina, sendo dois no Sul do Estado, dois no Oeste e um no Alto Vale do Itajaí. As cidades com ocorrência são Grão Pará, Criciúma, Pinhalzinho, Campo Erê e Vidal Ramos. A lista divulgada pelo Ministério do Trabalho aponta 30 trabalhadores envolvidos em condições de trabalho indignas nos últimos anos em SC.

 

A relação divulgada nesta quinta é diferente da divulgada há dez dias pelo jornalista Leonardo Sakamoto, do Uol, que apontava 250 empresas, sendo oito delas em Santa Catarina. De acordo com o Ministério do Trabalho, a lista atual foi publicada seguindo “rigorosamente a portaria Interministerial MTPS/MMIRDH número 4 de 11/05/2016, levando em consideração os critérios estabelecidos no artigo segundo, parágrafo primeiro”. 

 

A assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho informou à reportagem do Diário Catarinense que as 250 empresas divulgadas anteriormente integravam lista preliminar de casos suspeitos. A nova relação indica casos onde as informações foram confirmadas.

 

Em Santa Catarina, os cinco casos que constam na lista suja ocorreram em plantações em áreas rurais. O que envolve o maior número de trabalhadores foi no Sul do Estado, em área de cultivo de batatas, localizada na encruzilhada de duas rodovias. 

 

A lista com as empresas que utilizam trabalho análogo à escravidão é aguardada há pelo menos dois anos. Por seguidas vezes, o Ministério do Trabalho barrou a divulgação, judicializando o tema, a última delas ainda neste mês. Em razão das seguidas suspensões da divulgação, o Brasil chegou a ser denunciado à ONU pela entidade Conectas, que levou o caso ao Conselho de Direitos Humanos.  

 

Veja locais listados pelo Ministério do Trabalho em SC

Empregador: Vanderlei Meurer

Área de cultivo de tabaco – Linha Antunes Braga – Grao Pará/SC
5 trabalhadores envolvidos
Ano: 2014

 

Empregador: Ronaldo Dalmolin Martinello
Área de cultivo de batatas – Encruzilhada da Rodovia Governador Jorge Lacerda com SC-108 – Criciúma/SC
14 trabalhadores envolvidos
Ano: 2014

 

Empregador: Maison May
Lavoura de cebolas – Estrada Geral Antas Gordas – Vidal Ramos/SC
5 trabalhadores envolvidos
Ano: 2015

Empregador: Ervateira Cavalo Branco
Extração de erva-mate – Linha Boa Vista, Pinhalzinho/SC
5 trabalhadores envolvidos
Ano: 2014

 

Empregador: Airton Luiz Cobalchini
Viveiro de mudas e serraria – Rua Pedro Damo, 87, Formosa – Campo Erê/SC
1 trabalhador envolvido
Ano: 2014

 

O que dizem as empresas

Em outubro de 2014, uma fiscal do Ministério do Trabalho realizou vistoria na propriedade de Ronaldo Dalmolin Martinello, em Criciúma. Na lavoura de batatas, foram encontradas 17 pessoas trabalhando, sem nenhum registro junto ao empregador. O agricultor explica que aquele tipo de colheita, de batatas-sementes, dura somente dois dias, o trabalhador é contratado de maneira informal e recebe de R$ 150 a R$ 200 por dia. 

 

Após a fiscalização, Martinello diz que realizou o pagamento da indenização de cada temporário por um mês, cerca de R$ 1,3 mil cada, totalizando R$ 22 mil, mas o processo foi levado à diante. Desde que entrou na lista do Ministério do Trabalho, o produtor está com o CPF bloqueado e não consegue retirar empréstimos nem financiamentos junto às instituições bancárias. 

 

Depois do ocorrido, ele não planta mais nada na propriedade catarinense, e concentrou a produção de batatas em São José dos Ausentes, no Rio Grande do Sul. Lá, o plantio e a safra duram cerca de seis meses, e por isso os funcionários são contratados dentro da lei.

 

As demais empresas ainda não foram localizadas pela reportagem.

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