A certeza de Pedro Antonio Ribeiro da Silva não teve eco na diretoria do Fluminense. Se o vice de projetos especiais defendeu que o clube deve construir o seu estádio próprio no Parque Olímpico, a ponto de desenvolver um projeto para tal, outros integrantes da gestão do presidente Pedro Abad têm dúvidas. Mais: criticaram o comportamento do homem que viabilizou o CT. O cenário passou a ser de incômodo com o protagonismo dele em meio a um debate intenso e com acusação de traição.
O sigilo mantido pelo Tricolor quanto ao assunto foi quebrado no sábado. Em entrevista ao GloboEsporte.com, Pedro Antonio deu detalhes do projeto. E abriu espaço para reuniões no final de semana – nenhuma com Abad e Pedro Antonio, que desistiu de ir ao jogo contra o São Paulo, domingo, no Morumbi, pelo Brasileirão. Até um estudo sobre a viabilidade de reforma das Laranjeiras entrou no contexto em que todos falam nos bastidores, mas ninguém aceita dar declarações públicas. Confira abaixo.
Traição de Pedro Antonio
O Conselho Diretor do Fluminense se reúne a cada 15 dias. Porém, Pedro Antonio convocou uma reunião extraordinária para a última quinta-feira. Nela, deu detalhes do projeto de construção da casa própria, algo que estava restrito a ele e ao presidente Abad. A intenção era obter apoio para dar velocidade às tratativas com a Prefeitura do Rio para a cessão do terreno, com medo da concorrência do Flamengo. De acordo com relatos de outros participantes, houve uma combinação para evitar a divulgação da estratégia do clube. Como concedeu a entrevista no dia seguinte, foi acusado de traição.
Críticas ao projeto
A capacidade entre 18 e 22 mil lugares e o custo de R$ 100 milhões foram as principais críticas ao estádio no Parque Olímpico. O entendimento é de que a pressa em tocar o projeto vai gerar uma solução cara e paliativa – partidas de maior interesse do torcedor teriam de ser disputadas no Maracanã. Há uma corrente que deseja ter uma casa com espaço entre 35 mil e 40 mil espectadores. Como Pedro Antonio não permitiu sugestões, de acordo com relatos, dirigentes desconfiam que ele tenha tido uma estratégia de usar a torcida para pressionar o clube. Mais: interesse político visando a uma eventual candidatura na eleição de 2019. Pelo projeto, a obra seria financiada com patrocinadores, venda de cadeiras cativas e camarotes e naming rights (comercialização do nome do estádio).
Reforma das Laranjeiras
O vice-presidente geral Cacá Cardoso e alguns conselheiros começaram um estudo de viabilidade do estádio das Laranjeiras. O assunto divide setores do clube. Alguns dirigentes acreditam que é possível voltar a mandar jogos de menor apelo em sua tradicional casa, mas outros veem o futuro tricolor distante da sede de Álvaro Chaves. Tombado, o local necessita de liberação especial para ser reformado. Antes das eleições do ano passado, Abad declarou não descartar uma transformação de parte do estádio em um shopping. A proposta foi duramente criticada, e posteriormente, o presidente negou a intenção.
Após a equipe profissional “se mudar” para o CT, o campo não foi mais utilizado. O último jogo oficial do time principal do Fluminense foi um empate por 3 a 3 com o Americano, em 2003, pelo Carioca. O projeto de reforma, entretanto, não interfere na nova casa. O Fluminense trabalha com as duas possibilidades.
Outras opções
Além do protocolo de intenções assinado pela Prefeitura para a cessão de um terreno para a construção de um estádio em Jacarepaguá, o Fluminense trabalha em outras frentes. A diretoria avalia outros terrenos e busca soluções para ter uma nova casa. O novo estádio tricolor é considerado um “sonho de consumo” do presidente Abad e de seus seguidores.
– É um projeto ambicioso e complicado, dependemos da ajuda da Prefeitura. Mas na história do Fluminense sempre ultrapassamos desafios, e vamos conseguir construir. A construção depende de fontes de financiamento. Temos três previstas no estudo. O que podemos dizer é que não imaginamos uma arena, pensamos em um estádio totalmente voltado para o futebol. Queremos torná-lo um inferno para os adversários. Que os jogadores adversários não consigam se escutar dentro de campo por causa da pressão absurda da torcida. A acústica será completamente voltada para que o eco da torcida se escute e o visitante fique em situação incômoda. A torcida do Fluminense vai querer ir aos jogos, independente se o time está bem ou mal. O estádio teria algo em torno de 42 mil lugares, mas até terminar a construção leva um tempo – declarou Abad, no lançamento oficial de sua campanha à presidência.