Rui Car
10/12/2019 10h45 - Atualizado em 10/12/2019 08h31

Esse organismo unicelular toma “decisões” complexas mesmo sem um cérebro

Neste estudo, pesquisadores repetiram o experimento 60 vezes ao longo de vários meses

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HypeScience

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Um organismo unicelular de água fresca chamado Stentor roeseli demonstra comportamento inteligente. Ele foi descoberto em 1906, e quando estimulado no microscópio, essa criatura com formato de trompete conseguiu tomar decisões consideradas complexas para um organismo sem sistema nervoso.

 

Este foi o comportamento mais refinado já observado em um organismo unicelular até agora. Mas porque o Hypescience estaria dando uma notícia com 103 anos de atraso? A questão é que o comportamento foi observado apenas uma vez, e todas as outras tentativas de replicar o experimento trouxeram resultados bem menos empolgantes. A descoberta foi então descartada.

 

Agora, mais de cem anos depois, um novo experimento mostrou que a S. roeseli exibe, sim, todos os comportamentos descritos no estudo original do zoologista Herbert Spencer Jennings.

 

Comportamento complexo

Na imagem da esquerda, o S. roeseli está em sua posição normal. As quatro imagens mais à direita mostram suas reações ao ataque

 

Quando alguma coisa encosta repetidamente em um Stentor comum, ele tende a se contrair cada vez menos, em uma reação de habituação. Mas o que acontece com o Stentor roeseli é diferente: ele se torce todo, virando sua “boca” para o lado oposto. Se o ataque continuar, a célula mexe seus cílios para afastar qualquer coisa de sua região oral. Se mesmo assim não houver sucesso, a célula se contrai. Em último caso, o organismo que normalmente é imóvel se desliga de sua fundação completamente e se desloca.

 

Neste estudo, pesquisadores repetiram o experimento 60 vezes ao longo de vários meses, usando uma substância química para irritar o organismo e observar a reação de defesa.  

 

A conclusão foi a mesma da observação feita em 1903: os organismos têm um comportamento diferente da habituação e condicionamento. Os autores explicam que há uma “mudança de ideia” do organismo quando ele escolhe qual estratégia adotar para fugir da ameaça.

 

A mudança entre modelos de comportamento sugerem um nível complexo de tomada de decisão, normalmente reservados para aqueles que possuem sistema nervoso.

 

Os pesquisadores ainda não conhecem quais processos estão por trás dessas reações ou como o organismo as adquiriu. Uma das hipóteses é que eles começaram a ser desligar do substrato em busca de um parceiro para procriação ou então que os primeiros passos de defesa sejam uma forma de evitar uma mudança desnecessária, abandonando para trás um bom local para viver.

 

O estudo foi publicado na revista Current Biology. [Science Alert]

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