Rui Car
23/04/2019 17h00 - Atualizado em 23/04/2019 14h34

Um acidente em um jogo de dardos pode ter desencadeado um lendário massacre

Foi há 350 anos atrás no Alasca

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Arqueólogos descobriram a cena de um massacre ocorrido 350 anos atrás, no Alasca (EUA). A matança lendária aconteceu durante uma guerra que pode ter começado com um acidente em um jogo de dardos.

 

O achado revela as maneiras horríveis como as pessoas de uma cidade foram executadas e confirma pelo menos parte da lenda que foi transmitida ao longo dos séculos pelo povo Yup’ik.

 

A escavação

A escavação foi realizada na cidade de Agaligmiut, hoje frequentemente chamada de Nunalleq. Os cientistas descobriram os restos de 28 pessoas que morreram durante o massacre, bem como 60.000 artefatos bem preservados.

 

De acordo com os líderes da escavação, Rick Knecht e Charlotta Hillerdal, professores de arqueologia da Universidade de Aberdeen (Escócia), Agaligmiut tinha um grande complexo interconectado projetado para tornar a defesa da cidade mais fácil. A estrutura terminou queimada e cheia de pontas de flechas.

 

Algumas das 28 pessoas encontradas “foram amarradas e executadas”. “Elas estavam viradas para baixo e algumas tinham buracos na parte de trás de seus crânios do que parece uma lança ou flecha”, detalha Knecht.

 

Os pesquisadores não podem dizer quando exatamente o massacre ocorreu, mas o complexo foi construído em algum momento entre 1590 e 1630, e destruído por um ataque e incêndio em algum momento entre 1652 e 1677.

 

Guerras do Arco e Flecha

O massacre ocorreu durante o que os historiadores chamam de “Guerras de Arco e Flecha”, uma série de conflitos no Alasca durante o século XVII. Para entender melhor o que se passou, no entanto, os pesquisadores precisam separar lenda de realidade.

 

A lenda: o início

De acordo com uma lenda Yup’ik, o conflito começou durante um jogo de dardos quando um menino acidentalmente acertou outro no olho com um dardo. O pai do menino machucado, por sua vez, arrancou os dois olhos do garoto que causou a lesão. Então, um parente do garoto que teve ambos os olhos arrancados retaliou, e assim por diante.

 

O conflito foi se intensificando conforme outros membros da família dos dois meninos se envolveram na disputa. Um mero acidente infantil, logo, teria resultado em uma série de guerras pelo Alasca e pelo Território de Yukon, no Canadá.

 

A lenda: a emboscada

Histórias passadas ao longo dos séculos contam como o povo de Agaligmiut, liderado por um homem chamado Pillugtuq, montou um grupo de guerra e foi atacar outra aldeia que possuía vários nomes, incluindo Pengurmiut e Qinarmiut.

 

As pessoas desta outra aldeia foram avisadas do perigo que se aproximava, e emboscaram os combatentes, matando ou dispersando todos os seus guerreiros.

 

Em uma das histórias da emboscada, as mulheres da aldeia vestiram-se como homens e participaram da arapuca, usando arcos e flechas para atacar o grupo de guerra de Agaligmiut. Outra história diz que, pouco antes de o grupo deixar Agaligmiut, um xamã avisou a Pillugtuq que Agaligmiut seria reduzida a cinzas, um aviso que este teria ignorado.

 

Depois da emboscada, os guerreiros da outra aldeia de fato seguiram para Agaligmiut, matando o restante de seus habitantes e queimando o local. Como a maioria dos homens em idade de lutar estava com o grupo de guerra que havia sido emboscado, o massacre consistiu principalmente de mulheres, crianças e homens idosos.

 

O que a arqueologia corrobora?

Descobertas arqueológicas confirmam que Agaligmiut foi queimada, e os 28 corpos encontrados consistem principalmente de mulheres, crianças e homens mais velhos. “Havia apenas um homem em idade de lutar”, disse Knecht.

 

Também foram encontrados cerca de 60.000 artefatos que contam como era a vida em Agaligmiut antes do massacre. Entre os objetos estão bonecas, máscaras de madeira e cestas de capim.

 

O permafrost manteve os itens excepcionalmente preservados. “É incrível, muitas dessas coisas poderiam ser usadas hoje em dia. Em alguns casos, a madeira ainda estava brilhante e nem mesmo escurecida pela idade”, afirma Knecht.

 

 

As máscaras de madeira são alguns dos artefatos mais interessantes. Eram usadas em danças e muitas vezes descrevem uma pessoa se transformando em um animal ou vice-versa. Já as figuras e bonecas eram utilizadas para uma variedade de propósitos, incluindo rituais religiosos e como brinquedos.

 

 

Uma equipe do 3DVisLab da Universidade de Dundee (Escócia) está atualmente criando digitalizações em 3D altamente detalhadas dos artefatos descobertos, que deverão ajudar estudantes e pesquisadores a aprenderem mais sobre os costumes e a vida em Agaligmiut no século XVII.

 

O papel do frio e da escassez de alimento

Para além das diferentes histórias que existem, os pesquisadores sabem que as Guerras de Arco e Flecha ocorreram durante um período de tempo chamado de “Pequena Idade do Gelo”, no qual a região passou de um pouco mais quente do que é agora a um pouco mais fria em um período muito curto de tempo.

 

“O clima mais frio pode ter causado uma escassez de alimentos que poderia ter contribuído para o desencadeamento do conflito”, explicou Knecht. [LiveScience]

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