Rui Car
23/01/2017 10h45 - Atualizado em 23/01/2017 08h32

Sabe o que são sapiosexuais? Eles tem até app de encontro

O movimento da sapiosexualidade define a si mesmo como uma orientação sexual

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Sapiosexuais não querem nudes, melhor enviar links sobre astronomia. Eles sentem atração pela inteligência sem fazer distinção de gênero ou aparência física. É feio (a), mas recita Fernando Pessoa? Tesão. É bonito (a), mas não sabe conjugar os verbos corretamente? Broxante (ok, tenho que concordar aqui). Desengonçado (a), mas capaz de passar o jantar inteiro discutindo macroeconomia? “Pode vir quente que eu estou fervendo”. Gostoso (a) e rato (a) de academia, mas não assistiu nenhum filme de Woody Allen? “A gente se vê”. Se você não cursou uma faculdade, a probabilidade de transar com um (a) sapiosexual é nula.

 

Espécie de Tinder, o aplicativo Sapio foi lançado em setembro de 2016 para conectar gente “intelectualmente compatível”. Os fundadores do app afirmam que já são 10 mil cadastrados e 7 mil matches em Nova York. Em vez de postar várias fotos, eles respondem a uma série de perguntas em seus perfis – do tipo: “eu quero ouvir uma música pela primeira vez, qual você sugere? ”. No topo do ranking sobre as profissões dos usuários estão professores / doutores, cargo financeiro em bancos, profissionais do marketing, programadores de TI, empreendedores.

 

O termo sapiosexual vem do latin “sapien”, que significa “sábio”. Agora peraí que eu vou filosofar: inteligência e sabedoria são conceitos BEM relativos, impossíveis de medir apenas por um teste de QI. Por exemplo, quem entende de macroeconomia pode nunca ter lido Fernando Pessoa e não saber diferença entre emergir / imergir. Fora que existem inúmeras áreas de conhecimento. Quando a uva tá boa pra colheita? Qual o jeito mais seguro de socorrer um acidentado? Quanto de cimento precisa pra subir uma laje? Como se toca violão? Cadê o quiz pra avaliar a sabedoria de vida, daquilo que não se aprende em nenhuma escola (humildade, empatia etc)?

 

O movimento da sapiosexualidade define a si mesmo como uma orientação sexual. Ou seja, algo que não se escolhe – do mesmo jeito que hétero / homossexualidade etc. Desculpa, não é orientação sexual. Fetiche? Também não se enquadra. Parece pretensão, antes de qualquer coisa. Pessoas genuinamente inteligentes não dizem “nossa como eu sou inteligente” nem precisam entrar num app pra comprovar / exibir seu ~status cerebral~. E se interessar por pessoas inteligentes não faz de você um sapio, mas alguém bastante normal. Ou você é seduzido pela burrice, independentemente da aparência do outro (a)? Tipo: “Ai que delícia, é burro (a) e feio (a), então bora ali dar umazinha”.

 

Em entrevista a sites gringos, homens e mulheres autodefinidos sapios se defendem dos estereótipos. Dizem que a sapiosexualidade pode ser vista também como um protesto contra “a superficialidade dos encontros modernos, nos quais a embalagem é mais importante do que o conteúdo”. Concordo com a opinião. Só não entendo a necessidade de combater isso criando ainda mais rótulos. O que uma coisa tem a ver com a outra? Ai, desculpa, burrice minha.

 

 

*Nathalia Ziemkiewicz, autora desta coluna, é jornalista pós-graduada em educação sexual e idealizadora do blog Pimentaria.

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